Moradora de Paranavaí, ela criou a filha sozinha desde o nascimento e aprendeu, entre erros e acertos, que ser mãe é amar acima de qualquer dificuldade
Cibele Chacon
Da redação
No nascimento da filha, há 12 anos, Tatiana Laís dos Santos, também nasceu como mãe, sem muito tempo de se preparar. A maternidade chegou e, com ela, uma nova vida: noites em claro, fraldas, mamadas, e um turbilhão de emoções. Em meio a tudo isso, a ausência do pai e a realidade de ser uma mãe solo.
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Aos 33 anos, Tatiana olha para trás com orgulho de sua história e da relação que construiu com a filha Yasmin. Ela foi abandonada pelo pai da criança ainda na gestação, mas ao contrário de tantos, ele registrou a paternidade após o nascimento, mesmo não sendo presente. “No hospital, quando ganhei a Yasmin, ele me mandou mensagem dizendo que ia registrar. Ele paga pensão porque eu fui atrás do mínimo. Hoje, eu sou mãe, pai, avó paterna, tia paterna, tudo em uma só”, conta.

Foto: arquivo pessoal
Atualmente desempregada, ela afirma que a maior dificuldade como mãe solo é a educação da filha, dentro e fora de casa. “Ensino caráter, responsabilidade, mas lá fora o mundo é cheio de coisas boas e ruins. E uma criança nem sempre sabe diferenciar”, diz.
O amor entre mãe e filha se revela nos pequenos gestos: as duas adoram assistir filmes juntas, se vestirem com roupas iguais e fazem inúmeras atividades divertidas. Ela aprendeu a ser mãe e pai — mas, acima de tudo, a ser referência. Mesmo com a rotina puxada, ela busca estar presente em todos os momentos da filha, desde idas ao cinema com os amigos até conversas diárias sobre a escola e a vida. “Dormimos juntas até hoje. Tento mostrar que, aconteça o que acontecer, ela sempre vai ter a mim”.
A maternidade idealizada como papel compartilhado nem sempre é possível e os desafios são muitos. “Ser mãe solo é viver uma rotina cansativa, mas também cheia de recompensas. Meu maior sonho é ver a Yasmin realizada. Se isso acontecer, saberei que fiz um bom trabalho como mãe”, diz.
Nem tudo são flores, principalmente para quem precisa dar conta de muitas coisas sozinha. Além da sobrecarga, as próprias vagas de emprego que surgem acabam sendo desafiadoras. Tatiana relata ter deixado passar oportunidades profissionais por não querer se distanciar da filha. “Em qualquer lugar que vamos trabalhar, temos que analisar se isso não vai afetar demais a vida pessoal por conta da filha. É um ser que depende dos seus cuidados para viver”, desabafa.

Mas as mulheres da família de Tatiana seguem unidas. Essa rede de apoio é fundamental para a sua realidade enquanto mãe solo. “Meu apoio para trabalhar sempre foi minha mãe e minha irmã. Até hoje, mesmo ela já sendo uma pré-adolescente eu ainda recorro à minha mãe para me dar conselhos de como lidar com a Yasmin. Não é fácil”, diz.
A história de Tatiana representa tantas outras histórias silenciosas, fortes e bonitas espalhadas por Paranavaí e pelo Brasil. Mulheres que, mesmo sozinhas, não deixam faltar amor. Que se desdobram em cuidado, paciência e coragem. “Hoje posso dizer com todas as letras que sou uma mãezona. Yasmin me ensinou tudo o que sei hoje sobre responsabilidade, amor de verdade, também a ser chata e rígida no momento em que preciso, mesmo com dor no coração. Por mais que os dias sejam difíceis, tudo é compensado”, afirma.
Realidade das mães solo
Enquanto o Dia das Mães se aproxima com mensagens de flores, carinho e união familiar, a realidade de milhões de mulheres brasileiras segue distante dessa imagem idealizada. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), mais de 11 milhões de mães no Brasil cuidam dos filhos sem a presença de um companheiro. O número de mães solo cresceu 17,8% na última década, evidenciando um fenômeno social que exige mais atenção e políticas públicas eficazes.
A ausência do pai na vida dos filhos não é apenas simbólica. Dados da Associação dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen-Brasil), compilados pela Defensoria Pública do Paraná, mostram que, entre janeiro de 2024 e maio de 2025, 107 crianças foram registradas apenas com o nome da mãe em Paranavaí.
Segundo o defensor público Gabriel Antonio Schmitt Roque, a ausência do nome do pai no registro “retira vários direitos básicos da criança, como pensão alimentícia, herança e convivência familiar”. Segundo ele, a mulher também sofre com o impacto: “Seus direitos ao trabalho, ao descanso e ao lazer são diretamente afetados pela sobrecarga de responsabilidades”.
A Defensoria Pública tem atuado para enfrentar o problema da ausência paterna, promovendo mutirões de reconhecimento voluntário de paternidade, como o projeto “Meu Pai Tem Nome”, realizado em Paranavaí em 2024. A ação busca garantir direitos às crianças e aliviar a carga emocional e econômica das mães.