PHILLIPPE WATANABE
DA FOLHAPRESS
Quando se fala em financiamento climático no Brasil, muito se comenta sobre investimentos estrangeiros, especialmente em relação ao que vai para florestas. Mas e se te dissessem que a maior parte do financiamento para o clima no país vem dos nossos próprios cofres, vai para a agropecuária e são recursos privados direcionados por políticas públicas?
Essa é a foto revelada por um amplo levantamento, ao qual a Folha de S.Paulo teve acesso com exclusividade. O estudo foi feito por pesquisadoras da CPI (Climate Policy Initiativ) da PUC-Rio.
O levantamento leva em conta as finanças climáticas relacionados ao uso da terra. O foco nessa área não é gratuito. A maior fatia das emissões brasileiras (70%) de gases-estufa é proveniente de desmatamento (em especial da Amazônia) e de atividade agropecuária.
A pesquisa mostra que, de 2015 a 2020, o financiamento climático ligado ao uso da terra ficou, em média, em R$ 25,1 bilhões anuais. Houve um salto do primeiro ano para 2020, porém, saindo de cerca de R$ 22 bilhões para R$ 36,5 bilhões.
O crédito rural é parte da explicação para a concentração de dinheiro no setor agropecuário. Segundo o levantamento, que será divulgado nesta segunda-feira (18), cerca de dois terços do financiamento climático doméstico brasileiro o equivalente R$ 15,9 bilhões anuais são provenientes de recursos privados.
O motivo disso é que instituições financeiras são obrigadas a direcionar verbas para o crédito rural.
“Não é que os agentes privados no Brasil estão voluntariamente destinando recursos. Temos uma política enorme de crédito rural”, diz Priscila Souza, gerente sênior de avaliação de política pública do CPI/PUC-Rio, citando os mais de R$ 400 bilhões do último Plano Safra.
Souza explica que parte dos recursos do Plano Safra vem diretamente do Tesouro, mas que outra grande parcela é derivada de direcionamento obrigatório de contas-correntes e poupanças de bancos.
Segundo o estudo, do total do financiamento observado, 95% (R$ 23,8 bilhões por ano) vêm de fontes domésticas.
Com isso, as pesquisadoras observaram que o setor agrícola foi o que abocanhou a maior parte do financiamento climático para uso da terra, na casa de pouco mais de R$ 15 bilhões por ano, ou 60% dos fluxos financeiros observados de 2015 a 2020. A pecuária, por sua vez, ficou com R$ 2 bi ao ano, e a bioenergia e os combustíveis com R$ 1,3 bi. Outros R$ 6,3 bilhões, ou 25%, foram para o setor de florestas.