REINALDO SILVA
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A estimativa é preocupante: 90% dos pacientes internados na UTI da Ala Covid não se vacinaram ou não completaram o esquema de imunização com as duas doses. A realidade da Santa Casa de Paranavaí é o reflexo do que acontece em hospitais de todo o Brasil, resultado dos discursos negacionistas e dos ataques constantes à ciência, avalia o médico intensivista Bruno Leal. A maioria das pessoas internadas é de adultos jovens, na faixa de 30 a 50 anos de idade.
No início da tarde de ontem, a taxa de ocupação de leitos de terapia intensiva na Ala Covid da Santa Casa de Paranavaí era de 58%, totalizando 14 pacientes. Outras quatro pessoas estavam na Enfermaria (25% das vagas). Dos 18 internados, 15 testaram positivo para coronvaírus e três ainda aguardavam a conclusão dos exames laboratoriais.
É notório que os números estão abaixo de outros períodos da pandemia, basta comparar. Na última terça-feira (19), um óbito foi registrado na Santa Casa de Paranavaí, um homem de 41 anos, morador de Loanda, sem comorbidades relatadas. No dia 10 de junho, a equipe do hospital atestou oito mortes de pacientes internados na Ala Covid. No dia 31 de maio, foram 11 óbitos. A redução, no entanto, não significa o fim do problema sanitário. “Nosso sonho máximo é que a pandemia acabe, mas ainda não acabou”, diz Leal.
Até lá, a orientação do médico é que as pessoas mantenham os cuidados massivamente divulgados ao longo destes quase dois anos: usar a máscara de proteção facial, fazer a higienização constante das mãos, manter o distanciamento mínimo conforme os protocolos de saúde. Ainda não é o momento de baixar a guarda. Tampouco é recomendado buscar tratamentos alternativos que não tenham sido cientificamente comprovados, por exemplo, a aplicação de vermífugos, amplamente defendida inclusive por profissionais de saúde, afirma o chefe da UTI da Santa Casa.
O obscurantismo lançado sobre a ciência é irresponsável. As notícias falsas e a politização indevida da pandemia dificultaram o combate à Covid-19. “O problema é a difusão do negacionismo, o alcance que essas pessoas têm”, pontua. Para Leal, as lições que ficam após um ano e sete meses desde o primeiro caso da doença em Paranavaí (em março de 2020) podem ser resumidas em “respeitar a ciência séria e combater o charlatanismo”. Também salienta que a medicina praticada por pessoas comprometidas com a verdade salva vidas.
Sem apontar características específicas para evitar a identificação, por motivos éticos, o intensivista conta que recentemente acompanhou o caso de uma mulher com mais de 80 anos que estava internada na UTI da Ala Covid, entubada. Graças à reação dos anticorpos criados pelas duas doses da vacina, o organismo dela respondeu positivamente e foi possível abrir mão do tudo de oxigênio.
Cabe explicar que a Santa Casa de Paranavaí é um hospital de alcance regional, referência para o tratamento de pacientes com Covid-19, por isso recebe pacientes de todos os municípios do Noroeste do Paraná. Nos dias de maior demanda por leitos para internação, no maior pico da pandemia, chegou a atender moradores de outras partes do Estado.
Números da doença – O boletim da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) atualizado ontem apontava 1.533.615 casos positivos de Covid-19 no Paraná e 39.786 mortes. A incidência estadual de casos por 100 mil habitantes é de 13.316; no Noroeste do Estado é de 12.324 para cada grupo de 100 mil pessoas. O coeficiente de mortalidade na região é de 259,1 por 100 mil habitantes, abaixo do índice estadual, 345,5.
Em Paranavaí, a Secretaria de Saúde contabilizou 14.455 diagnósticos positivos até a manhã de ontem, quando o Boletim Covid apontava 16 novos casos da doença. Desse total, 14.081 pessoas haviam passado dos 14 dias de início dos sintomas e estão fora do período de transmissão da doença. Outras 72 ainda estão com o vírus ativo, sendo monitoradas pelas equipes técnicas. Até a atualização, 302 pacientes morreram por complicações da Covid-19.