Otimistas, porém, mais comedidos em sua opinião sobre o futuro dos negócios e da economia até o fim do ano, os industriais do Paraná avaliaram que o momento ainda é positivo para o setor. O índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI) ficou em 66,4 pontos em agosto, dentro da área de otimismo (acima de 50 pontos, numa escala que vai até 100). Praticamente estável em relação ao resultado obtido em julho, que foi de 66,1. O estudo é feito mensalmente pela Confederação Nacional da Indústria em parceria com a Federação das Indústrias do Paraná (Fiep).
Depois de seis altas seguidas e significativas, a diferença de apenas 0,3 para o indicador divulgado no mês passado sugere uma tendência de acomodação do empresário em relação a como avalia a economia e os negócios. O que mais pesou no resultado atual foi o indicador de expectativas, que analisa a tendência para os próximos seis meses. Ele somou 68,6 pontos, enquanto o de condições, que me mede os seis meses passados, ficou em 62 pontos. Este último cresceu quase 3 pontos na comparação com julho, enquanto o de expectativas caiu um ponto. Porém, seu peso na composição do ICEI é maior.
O economista da Fiep, Evânio Felippe, avalia que fatores externos podem estar interferindo na confiança do empresário em relação à estabilidade do ambiente econômico. “Há uma preocupação dos agentes de mercado com relação ao cumprimento das políticas fiscais pelo Governo Federal, além de fatores conjunturais como a alta da taxa de juros Selic, para tentar conter a inflação elevada no país, e a previsão de crescimento do PIB abaixo do esperado”, avalia.
O reflexo da política econômica no mercado de trabalho também pode ter influenciado a opinião do industrial. Dados do trimestre março, abril e maio, divulgados em julho pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) atualizam a taxa de desemprego no Brasil em 14,6%, ou seja, são 14,8 milhões de pessoas sem trabalho no país. “É um valor alto que, somado às condições mais restritivas de distribuição da nova rodada do auxílio emergencial, com valor mais baixo e para menos pessoas na comparação com o praticado em 2020, gerou um aumento da pobreza e da informalidade no Brasil”, sustenta.
“Para sustentar suas famílias, mais pessoas saíram às ruas para buscar renda. É o que chamamos de empreendedorismo por necessidade e não por oportunidade. E isso impacta no consumo e no resultado de atividades de comércio e serviços, que influenciam no ritmo de produção das indústrias”, explica o economista.
O país também atravessa um período de dificuldade por conta da crise hídrica, que sugere um esforço do setor produtivo para economizar água e energia em seus processos internos nos próximos meses. “Essa necessidade de preservar recursos naturais pode desacelerar o ritmo de produção nas fábricas neste segundo semestre, que é justamente o período de maior pico na atividade industrial para atender à demanda de fim de ano. E isso afeta a economia como um todo”, resume.
A não-aprovação de reformas importantes como a fiscal e tributária, que podem dar um maior dinamismo à economia e à atividade industrial, principalmente, também interferem na opinião dos empresários. “Elas estão paradas no Congresso sem previsão de votação. Tudo isso os gestores de empresas avaliam na hora de analisar os próximos passos e tomar suas decisões. O resultado do mês é reflexo desse cenário, que sinaliza que o industrial está mais conservador, aguardando como a economia vai se comportar para reavaliar seu planejamento”, diz Felippe.
Por outro lado, setores de comércio e serviços esboçam uma recuperação mais forte este ano, fator que tem influenciado o ritmo de produção nas indústrias paranaenses, com alta acumulada de 18% no primeiro semestre de 2021.