O presidente da Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar), Otamir Cesar Martins, é taxativo: “Se for preciso, vamos usar o poder de polícia”. Ele está preocupado com o avanço do greening e aponta o manejo inadequado de pomares comerciais como um dos principais riscos para a citricultura.
O greening é uma doença bacteriana, também conhecida como huanglongbing ou HLB, que ataca todos os tipos de citros e não há cura para as plantas doentes. As árvores novas afetadas não chegam a produzir e as adultas em produção sofrem com a queda prematura de frutos e definham ao longo do tempo.
As primeiras aparições do greening em lavouras paranaenses remontam a 2007. A ameaça levou o poder público, os produtores e a indústria a uma grande mobilização para frear a disseminação da doença. Os resultados foram positivos e permitiram que o setor convivesse por mais de uma década de forma segura com a praga.
O cenário até então confortável é apontado como uma das explicações para o crescimento da incidência de árvores doentes a partir de 2021. Sem grandes riscos aparentes, parte dos produtores negligenciou as medidas de controle do inseto transmissor do greening.
Fatores climáticos também contribuíram para o aumento de vetores nas áreas produtivas – temperaturas elevadas como as registradas ao longo dos últimos anos favorecem o ciclo reprodutivo do psilídeo Diaphorina citri.
CONTAMINAÇÃO
A Adapar estima que o greening tenha comprometido entre 25% e 30% das árvores na Região Noroeste. A confirmação ou retificação desse percentual será possível assim que a câmara técnica da citricultura concluir o levantamento em curso. Por enquanto, os índices são extraoficiais. Em dezembro de 2023, 159 municípios paranaenses tinham registros de casos da doença.
Dois fatores comprometem o controle do HLB: as plantações não comerciais em áreas urbanas ou pequenas propriedades rurais, mas principalmente pomares comerciais antigos que deixaram de ser rentáveis e não recebem mais os cuidados necessários ou foram abandonados.
Gerente regional da Adapar em Paranavaí, Alisson Santos Barroso chama afirma que há poucos casos de lavouras que não recebem o manejo adequado no Noroeste do Paraná, mas são suficientes para pôr em xeque toda a cadeia produtiva.
Normalmente, o psilídeo ataca de fora para dentro, chega pelas áreas de bordadura e se instala nos pomares. A maior intensidade é identificada nos primeiros 50 metros da área plantada. Por isso mesmo, é fundamental que os produtores adotem estratégias para evitar que os insetos avancem.
O chefe do Departamento de Sanidade Vegetal da Adapar, Renato Blood, enfatiza que o greening é o maior desafio fitossanitário do mundo. “Não tem controle eficiente até hoje, apenas manejo adequado para conter. A erradicação da doença é impossível.”
CITRICULTURA
Números da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento (Seab) revelam a importância da citricultura para o Paraná, onde a área total de plantio se aproxima de 30 mil hectares, com 842,4 mil toneladas de frutas e Valor Bruto de Produção (VBP) de R$ 826,8 milhões.
Em todo o estado são mais de 600 citricultores, concentrados principalmente nas regiões Noroeste e Norte.
Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Governo Federal, mostram que em 2023 as atividades da cadeia citrícola tiveram acréscimo de 13% na contratação de mão de obra, gerando 1.723 novos postos de trabalho.
O pesquisador do Departamento de Economia Rural (Deral) Enio Luiz Debarba informa que só na Região Noroeste, considerando a safra 2021-22, a citricultura representou 4,47% do valor total da produção agropecuária na região, movimentando R$ 313.542.806,85.
Para dar uma ideia da importância da atividade, em Paranavaí a cadeia produtiva de laranja representa 30% do Produto Interno Bruto (PIB), conforme dados apresentados pela Administração Municipal.
Também está na região de Paranavaí a maior produção anual do estado: a Adapar estima mais de 500 milhões de quilos de frutas cítricas. Em Maringá, são 89,4 milhões.
De acordo com a Seab, o Brasil responde por 28% da produção mundial de laranja, sendo responsável por 80% das exportações. O Paraná representa 4,40% do total nacional.
CONTROLE
Diante da importância da cadeia citrícola para a economia paranaense, foi preciso tomar providências rápidas no sentido de conter o greening. Mais uma vez, Seab e Adapar mobilizaram as prefeituras e uniram forças com a iniciativa privada a fim de erradicar plantas doentes fora de áreas comerciais e intensificar a fiscalização em propriedades produtivas, com foco voltado especialmente para lavouras abandonadas.
Em Guairaçá, por exemplo, a ação garantiu a eliminação de 100% das plantas cítricas além dos limites das lavouras, em espaços públicos, domicílios urbanos e pomares comerciais abandonados.
A mobilização ganhou forças no primeiro semestre de 2023, quando, alarmados, os produtores perceberam que a praga ganhava espaço entre os pomares. À época, lideranças do setor citrícola expuseram a gravidade do problema afirmando que se o greening não fosse contido, a citricultura seria exterminada.
Um exemplo amplamente utilizado para ilustrar a situação foi o da Flórida, nos Estados Unidos, onde o HBL devastou a produção. Há 20 anos, o estado americano era responsável por inserir no mercado 240 milhões de caixas de laranja. Agora, o volume é de 19 milhões.
No México, outro país com importante participação mundial, o greening fugiu ao controle das autoridades fitossanitárias e está devastando as plantações. No Brasil, São Paulo enfrenta o mesmo problema e tem buscado no Paraná exemplos de estratégias de combate ao psilídeo.
O presidente de Adapar informa que até o momento o trabalho se concentra principalmente na orientação dos produtores, que são os responsáveis pela erradicação das plantas doentes. “Queremos que eles se conscientizem.” Caso isso não aconteça, a agência adotará a dinâmica de tolerância zero, com autuações e multas para os que não cumprirem a determinação.
O secretário estadual da Agricultura e do Abastecimento, Natalino de Souza, chama a atenção para o fato de a citricultura ter proporcionado grande desenvolvimento econômico para o Noroeste do Paraná e alerta: “Estamos vendo isso condenado. Temos que salvar as lavouras. Ou nós trabalhamos ou perdemos a luta”.
Onde está a ciência!!!
Se inventaram tão rapidamente a va$cina da COVID, porquê não descobrem um antídoto para o Greening!!!