BELO HORIZONTE, MG (FOLHAPRESS) – O secretário especial da Cultura do governo Bolsonaro, Mario Frias, ameaçou entrar na Justiça contra o influenciador Felipe Neto, além dos jornalistas Bob Fernandes e Fabiana Moraes, que fizeram críticas à condução da política cultural pela gestão do ator.
“O Mario Frias está processando criminalmente quem o chama de otário? Mario Frias, eu não te acho otário não. Eu te acho um admirador lambe-botas de genocida e conivente com o genocídio praticado pelo seu mestre. Você, aos meus olhos, é uma vergonha para a cultura brasileira”, postou Felipe Neto.
“Eu ia te tratar como um fedelho deslumbrado com meia dúzia de slogans bobos, mas aí eu descobri que, apesar do comportamento infantil, o homem-foca é um marmanjo de mais de 30 anos. Vai ter que provar na justiça as acusações. Abraço”, respondeu o secretário do governo Bolsonaro.
Já os dois jornalistas opinaram a respeito de um parecer técnico da Fundação Nacional das Artes, a Funarte, vinculada à pasta de Frias, que barrou o acesso a recursos públicos a um festival de jazz na Bahia. O documento, carregado de frases religiosas, apontava uma postagem em que o evento de música se definia como antifascista como um dos motivos do parecer negativo.
“A 9ª edição do Festival de Jazz do Capão, na Chapada Diamantina-BA, não terá o apoio da Lei Rouanet. Por em 2020 ter se manifestado contra o fascismo. Citando Deus, Sócrates e (pasmem!) o tal “Brasil Paralelo”, o Secretário da Cultura, Mario Frias, agiu como fascista”, postou Bob Fernandes no Twitter.
Frias então respondeu. “Nos vemos na Justiça, no processo por calúnia você explica por que eu sou fascista.”
Já Fabiana Moraes, colunista do Intercept, replicou na mesma rede social um posicionamento de Frias quanto ao parecer técnico. No post, Frias afirma: “Enquanto eu for Secretário Especial da Cultura ela será resgatada desse sequestro político/ideológico!”.
Ao compartilhar a postagem, Moraes escreveu: “Um pouco de poder a um otário e: [apontando para o post de Frias]”.
“Nos veremos na Justiça, com um processo de injúria”, respondeu Frias.
O parecer desfavorável ao Festival de Jazz do Capão, que está em sua nona edição, começa com a frase “o objetivo e finalidade maior de toda música não deveria ser nenhum outro além da glória de Deus e a renovação da alma”, atribuída a Johann Sebastian Bach.
No Facebook, o festival postou em 1º de junho do ano passado uma imagem se declarando “antifascista e pela democracia”. A postagem é apontada pelo parecer como uma das motivações do parecer ter sido negativo.
“Localizamos uma postagem do dia 1º de junho de 2020, com uma imagem, contendo um ‘slogan’ para ‘divulgação’, com a denominação de Festival Jazz do Capão, na plataforma Facebook, a qual complementou os fundamentos para emissão deste parecer técnico”, afirma o parecer.
Na seção “Sobre a aplicabilidade da lei federal de incentivo à cultura em objeto artístico cultural” do parecer, a primeira frase é “por inspiração do canto gregoriano, a música pode ser vista como uma arte divina, onde as vozes em união se direcionam à Deus [sic]”.
Logo no início de sua gestão como secretário, Frias atacou Marcelo Adnet após ter sido parodiado pelo comediante, em setembro do ano passado. Em publicação no Instagram, Frias diz que Adnet é um “garoto frouxo e sem futuro”, uma “criatura imunda”, “crápula” e “Judas”. O humorista faz uma paródia de um vídeo publicado pelo governo anunciando uma série “bela e grandiosa” sobre a história do Brasil.
“Um palhaço decadente que se vende por qualquer tostão, trocando uma amizade verdadeira, um amor ou sua história por um saquinho de dinheiro e uma bajulada no seu ego infantil e incapaz de encarar a vida e suas responsabilidades morais”, escreveu o ator.
O deputado Flávio Serafini, do Psol fluminense, criticou a postura do ex-“Malhação” frente à paródia de Adnet. Como resposta ao parlamentar, Frias postou “cuidado com PF…”, o que foi entendido como uma referência à Polícia Federal. Após ser intimado pela Justiça a explicar sua postagem, Frias afirmou que PF se referia a “prato feito”, conforme informou o jornalista Ancelmo Gois, do Globo.
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