Por Edson Godinho*
Antônio ama Sônia. Mas não deixa de pensar um dia sequer em Marisol, seu amor juvenil…
Quando Antônio foi embora para a cidade, Marisol ficou dias sem falar, sua passionalidade estava aflorada, passava os dias e as noite chorando. Escutando os boleros que anteriormente dançava desnuda junto ao corpo de Antônio.
Após a partida de Antônio, Paulo, seu pai, passou a visitar Marisol, e não demorou muito para que Paulo e Marisol começassem a se envolver sexualmente. Marisol pensava em Antônio, mas se tornou escrava da relação carnal que mantinha com Paulo. Zulma, a esposa de Paulo, como em todas as situações de sua vida, sabia do ocorrido, mas preferia se calar. Quando Antônio se mudou para a cidade, ela não aprovou a decisão de Paulo, mas se calou como dizendo um sim.
Zulma foi criada para ser dona da casa, para ser a que sempre diz sim, e mesmo que esse comportamento a incomodasse ela estava presa às rédeas de uma criação repressora e machista.
De certo modo, Zulma era grata a Marisol, pois ela não sentia nenhum desejo sexual por Paulo, e, para ela, se relacionar sexualmente com o marido era um castigo.
Marisol havia perdido o marido, perdido Antônio e agora era refém de um homem que ao mesmo tempo em que lhe causava desejo, lhe causava asco. A situação piorou quando seu dinheiro acabou, e Marisol era então dependente financeira de Paulo.
Antônio nunca soube desses fatos. Tampouco soube a verdade sobre a morte de seu pai. A história que Antônio escutou é de que Paulo foi assassinado em decorrência de uma dívida.
Marisol e Zulma acabaram por se tornar amigas, em determinado momento ambas nutriam o mesmo ódio por Paulo. E foi assim que essas mulheres planejaram a morte de Paulo. Foram quatro facadas apenas, para não configurar crime passional. Marisol embebedou Paulo, Zulma desferiu duas facadas e Marisol outras duas. Após a morte de Paulo, Marisol foi embora.
Antônio nunca mais ouviu falar de Marisol. Até a semana passada, quando Caru, sua filha, lhe contou sobre uma senhora de 80 anos chamada Marisol, que havia ingressado no grupo de bordadeiras de sua marca. Desde então o nome Marisol não sai da cabeça de Antônio.
Edson Godinho é artista visual, filmmaker, entusiasta, performer e professor. Mais informações e trabalhos em www.edsongodinho.com / eu.edsongodinho@gmail.com