MARCELO TOLEDO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Mais extensa rota ferroviária turística do país, a viagem entre Curitiba e Morretes, na Serra do Mar paranaense, completou no último dia 30 quatro milhões de passageiros transportados em 25 anos.
Criador do roteiro, o empresário Adonai Aires de Arruda, diretor-presidente da Serra Verde Express, diz que o período foi marcado por dificuldades como ter uma frota inicial pequena e conflitos sobre preços e relação com a concessionária que transporta cargas, mas também críticas de saudosistas da memória ferroviária com as implementações tecnológicas adotadas no decorrer do tempo.
A aposta no roteiro, que não tem registro de acidentes, é em vagões temáticos, diferentemente de outras rotas, que privilegiam locomotivas a vapor (maria-fumaça) e vagões centenários.
Assim surgiram vagões de luxo, pet friendly, com varandas panorâmicas e, mais recentemente, um que homenageia o grupo de montanhistas Guardiões do Marumbi, composto por Farofa, Paulo Sidnei, Rubens, Tarzan e Vitamina, considerados alguns dos principais montanhistas do Paraná.
“O sistema [de bilhetes] hoje é QR Code, com venda pela internet, sistematização. Sempre tem aquela crítica do cliente que quer relembrar o tempo quando o chefe do trem passava lá para furar o bilhete e agora ele está no celular. São várias coisas que você vai procurando se atualizar. O trem tem consumidor de 0 a 100 anos e de todas as faixas econômicas”, disse o empresário.
A rota chegou a transportar cerca de 200 mil passageiros por ano, antes de os impactos da pandemia da Covid-19 atingirem o setor. O trem ficou quatro meses sem operação alguma e, quando voltou, tinha uma série de restrições.
Arruda conta ao blog a trajetória de 25 anos de surgimento da rota ferroviária, segundo atrativo em número de turistas no Paraná, inferior apenas às Cataratas do Iguaçu, em Foz do Iguaçu.
“Foram 25 anos de muitas passagens. Quando iniciamos era uma frota totalmente vandalizada. Lembro que assinamos o contrato em março e na primeira viagem em maio só conseguimos colocar três vagões em operação.”
Segundo ele, os primeiros 12 anos, quase metade do período em atividade, foram de investimentos, trabalhando no vermelho.
Hoje o roteiro só fica atrás em número de passageiros do Trem do Corcovado, passeio turístico mais antigo do país e que leva mais de 600 mil pessoas anualmente num percurso inferior a quatro quilômetros.
“Os últimos dois anos com pandemia, quatro meses parado, [depois] taxa de ocupação mínima, uma série de coisas provocaram um fenômeno que se efetivamente a empresa não tivesse conseguido se estruturar teria sido muito difícil manter. A inauguração do Trem Republicano entre Itu e Salto em plena pandemia também sentiu bastante as expectativas que tínhamos. Agora que começa a criar a sua relevância.”
Além da rota paranaense, a Serra Verde opera o Trem Republicano em São Paulo, entre Itu e Salto. Até aqui, foram transportados 15 mil passageiros entre as duas cidades turísticas.
Arruda afirmou ainda que uma situação que pode gerar insatisfação de usuários é com atrasos que envolvem trens de carga -a linha é compartilhada- ou mesmo o impedimento de circular por algum problema logístico.
“Aí tem de justificar para seu usuário, às vezes uma pessoa que veio de outro lugar do mundo com o objetivo próprio de fazer o passeio de trem.”
O litoral paranaense tem, ainda, outra rota ferroviária em operação, entre Morretes e Antonina, administrada pela ABPF (Associação Brasileira de Preservação Ferroviária) e que busca na restauração de seus carros de passageiros deixá-los exatamente como eram no passado. A composição é tracionada por uma locomotiva fabricada em 1884.
Curitiba a Morretes (PR)
– Duração: quatro horas e 15 minutos
– Horários: saídas de Curitiba às 8h30 e 9h30 (litorina); de Morretes, às 15h (consulte datas)
– Trecho percorrido: 70 km
– Preços: a partir de R$ 139; há opções com almoço típico em Morretes, city tour em Antonina e transfer
– Atrações: trecho de mata atlântica e cachoeiras