NATHÁLIA GARCIA
DA FOLHAPRESS
Após um mês sem divulgação da pesquisa Focus, as projeções de economistas para a inflação deste ano aumentaram com força, segundo o boletim divulgado pelo Banco Central nesta terça-feira (26).
O levantamento apontou que as expectativas para o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) subiram para 7,65% em 2022, saindo de 6,86% no fim de março.
Já são 15 semanas de altas consecutivas, a projeção estava em 7,46% no boletim do dia 14 de abril, também publicado nesta terça.
O BC não divulgava a pesquisa Focus desde 28 de março, quando a publicação semanal foi interrompida devido à greve dos servidores do BC.
A paralisação, que teve início no dia 1º de abril, foi suspensa na última terça-feira (19) por duas semanas. Com isso, a autoridade monetária retomou a publicação de dados. Antes da intensificação da mobilização, a divulgação do relatório já tinha sido feita com atraso.
No último boletim publicado pelo BC, há cerca de um mês, a projeção para o IPCA de 2022 completava 11 semanas de altas consecutivas no ano, considerando o impacto da guerra na Ucrânia sobre os preços de commodities. No início de janeiro, a estimativa para a inflação era de 5,03%.
Para o economista-chefe do Rabobank, Maurício Une, o conflito na Ucrânia tende a manter o mercado de commodities agrícolas, como milho, trigo e soja, ainda bastante pressionado ao longo de 2022, com impacto negativo na economia brasileira.
“A gente continua tendo uma descoberta dos impactos do conflito na Ucrânia em relação aos preços internacionais das commodities da região e como isso acaba afetando as commodities substitutas, não só milho, mas também soja, farelo de soja. Esses fatores acabam sendo internalizados nas expectativas [de inflação]”, afirmou.
“Os insumos, apesar do câmbio, também continuam de uma certa forma complicados, a gente continua vendo os preços de petróleo e seus derivados em um patamar alto, e tem também a questão dos fertilizantes”, acrescentou.
O banco especializado em soluções financeiras para o agronegócio projeta um pico de inflação em abril, com expectativa de 11,7%. “A partir do segundo semestre, a gente começa a ver essa inflação abandonando os dois dígitos, vindo para 9,7% e procurando um patamar mais próximo de 7,3% em 12 meses”, disse o economista-chefe.
A expectativa do mercado coloca a inflação cada vez mais distante do objetivo perseguido pelo BC, que para este ano é de 3,50%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou menos. No Relatório Trimestral de Inflação, divulgado em março, o BC admitiu ver alta probabilidade de novo estouro da meta de inflação.
Se as projeções se confirmarem, será o segundo estouro consecutivo da meta, que é estabelecida pelo CMN (Conselho Monetário Nacional). Em 2021, o IPCA somou 10,06%, o maior desde 2015.
Para 2023, ano considerado de maior peso no horizonte relevante do BC, a projeção mediana para o IPCA saltou de 3,80% para 4% em um mês. Na semana anterior, o indicador estava em 3,91%. A inflação do próximo ano também tem sido colocada acima do centro da meta de 3,25% -com intervalo de tolerância de 1,75% a 4,75% no próximo ano.
Já a expectativa dos economistas para o patamar da taxa básica de juros (Selic) ao fim deste ano é de 13,25%, ante taxa de 13% estimada em março. A conta para 2023, por sua vez, se manteve estável em 9%, como na última leitura que havia sido divulgada.
O BC já sinalizou que o agressivo aperto monetário ainda não chegou ao fim. Atualmente, a Selic está em 11,75% ao ano. Nos dias 3 e 4 de maio, o Copom (Comitê de Política Monetária) voltará a se reunir e deve indicar nova elevação de um ponto percentual, com a taxa chegando ao patamar de 12,75% ao ano.
Para o PIB (Produto Interno Bruto), a pesquisa semanal mostrou que as estimativas são de crescimento de 0,65% neste ano e de 1% no próximo, ante 0,5% e 1,30% no último levantamento divulgado, em março.
A pesquisa Focus traz estimativas de economistas de mais de cem instituições financeiras sobre diversos indicadores, como atividade econômica, taxa básica de juros, inflação e câmbio. O relatório semanal é uma das referências na tomada de decisão do colegiado do BC.