NATHALIA GARCIA
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Apesar de o Banco Central reforçar a perspectiva de um encerramento do ciclo de alta na taxa básica de juros (o chamado “aperto monetário”), o mercado vê pouco espaço para a antecipação da queda da Selic e prevê algum afrouxamento somente em meados do ano que vem.
Menos otimistas com o cenário de inflação projetado à frente, alguns analistas ouvidos pela Folha consideram que o BC poderá começar a cortar a taxa básica a partir do segundo trimestre do próximo ano, outros esperam que o recuo tenha início apenas no segundo semestre de 2023. Eles refletem a visão majoritária do mercado financeiro.
No cenário de referência do Copom (Comitê de Política Monetária), as projeções de inflação caíram para 6,8% neste ano, acima, portanto, da meta do BC, que é de 3,5%, com uma variação de 1,5 ponto -ou seja, de 2% a 5%.
Para 2023, ano em que a meta é 3,25%, as projeções subiram para 4,6% e, para 2024, o colegiado do BC manteve a previsão de 2,7% -abaixo do centro da meta, que, naquele ano, é de 3%.
Embora trabalhasse habitualmente com um horizonte até 2023, o comitê estendeu o intervalo de avaliação ao primeiro trimestre de 2024, para suavizar os efeitos de medidas tributárias recentes, que alimentam as projeções de inflação deste e do próximo ano.
A projeção é que o índice de inflação acumulado em 12 meses no primeiro quarto de 2024 chegue a 3,5%.
Já as estimativas dos economistas para a inflação de 2022 e de 2023, de acordo com a pesquisa Focus publicada na segunda (1º), estão em 7,15% e 5,33%, respectivamente -ambas acima do teto das metas perseguidas pelo BC. Para 2024, a mediana é de 3,3%.
Considerando as incertezas de que o governo equilibre as contas públicas em 2023, por causa da possibilidade de que medidas de estímulo à demanda se tornem permanentes e mantenham pressão sobre a inflação, o mercado espera ver a Selic elevada por um tempo mais prolongado.
“A gente estima que [a taxa básica] fica nesse patamar [em torno de 14%] até meados do ano que vem. O BC começaria a cortar juros na quarta reunião de 2023 [20 e 21 junho], quando o horizonte de política monetária já vai ter se voltado para 2024”, afirmou Maurício Oreng, superintendente de pesquisa macroeconômica do Santander.
Para o economista, o BC irá reduzir aos poucos a política monetária contracionista (de juros mais altos), levando a Selic a 12% no fim de 2023.
Rafaela Vitória, economista-chefe do banco Inter, também vê espaço para corte de juros no segundo trimestre do ano que vem, apenas depois de observar um período de atividade econômica fraca.
A analista fala até de recessão técnica, com queda no PIB (Produto Interno Bruto) tanto no fim de 2022 quanto no início de 2023, quando a economia sentirá plenamente os efeitos defasados da política monetária.
“O Banco Central vai esperar um pouco o próximo governo montar equipe, ter uma linha de políticas a seguir para que tenha conforto de cortar os juros juntamente com a confirmação de que a inflação está cedendo”, disse.
Em suas projeções, a Selic recuará a 9,5% no fim do próximo ano.
Às vésperas do último Copom, o BNP Paribas revisou o seu cenário base, empurrando a expectativa de queda da Selic para o segundo semestre de 2023.
“A percepção de que poderia começar a cortar [juros] no segundo trimestre não vai dar mais. Minha impressão é que vai ficar para depois. Os juros de final de ano também vão ser mais altos”, disse Gustavo Arruda, chefe de pesquisa econômica para América Latina.
Na visão do banco francês, a deterioração das perspectivas fiscais, as expectativas de inflação mais altas para 2023 e 2024 e os números de atividade econômica acima do esperado são consistentes com uma política monetária mais apertada por mais tempo. Com isso, a projeção de taxa de juros para 2023 passou de 10,5% para 12%.
O Itaú, que espera ver a Selic chegar a 9,75% ao fim de 2023, é outro banco que considera a possibilidade de início de corte de juros apenas na segunda metade do próximo ano.
Segundo Fernando Gonçalves, superintendente de pesquisa econômica, algumas hipóteses precisam se concretizar, como “uma percepção de sustentabilidade fiscal mínima e de um arcabouço fiscal razoável que permita esse corte de juros”.
Segundo o especialista, a retomada da cobrança de impostos federais incidentes sobre combustíveis em 2023 adiciona uma dose de incerteza sobre o cenário. “Se tiver alta de inflação maior no ano que vem, isso pode gerar uma inércia inflacionária para 2024 e diminuir a propensão de o BC cortar juros”, afirmou.
Para Marco Caruso, economista-chefe do banco Original, os números trazidos pelo Copom em seu cenário de referência abrem espaço para imaginar que o BC poderia cortar os juros antes do que o mercado está prevendo. No entanto, não acredita que isso se concretize e prevê redução na quarta reunião de 2023, na virada para o segundo semestre.
“Entendo que, como tenho inflações mais altas, é preciso ficar com juros altos por mais tempo. Um pouco menos de um ano de juros parados a 13,75% para conseguir observar uma desinflação mais forte”, disse.
O analista estima que a Selic termine 2023 em 11%. “O viés desse número, para mim, ainda é para cima. Vem uma desinflação, mas ela vai ser muito centrada nos itens mais voláteis, como combustíveis e alimentos. Quando olho para serviços, vejo uma pressão razoável ainda acontecendo”, comentou.
Em relatório, o Goldman Sachs também disse esperar que o Copom aguarde até o fim do segundo trimestre ou possivelmente o terceiro trimestre de 2023 para começar a cortar a taxa de juros. A análise é assinada por Alberto Ramos, diretor do grupo de pesquisas econômicas para América Latina do banco.
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