DÉBORA SABINO E MARIANNA HOLANDA
DA FOLHAPRESS
O ministro Paulo Pimenta (Secom) anunciou nesta segunda-feira (23) que a EBC (Empresa Brasil de Comunicação) ficará sob comando interino do seu diretor-geral, Jean Lima.
Não há prazo para escolha de um novo titular. Mas, segundo auxiliares palacianos, Pimenta não tem demonstrado pressa para indicar um substituto e quer esperar a poeira baixar.
Lima já era sucessor atual da presidência na EBC e agora substituirá Hélio Doyle, que foi demitido na última quarta-feira (18) após compartilhar em redes sociais publicações críticas a apoiadores de Israel.
Lima é filiado ao PT no Distrito Federal e foi presidente da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan), no governo de Ibaneis Rocha (MDB).
De acordo com integrantes do governo e da EBC, o novo presidente da empresa tem a confiança do ministro da Secom, e não está descartada a possibilidade de ele continuar de forma definitiva à frente da companhia. Outro nome cotado, como mostrou a Folha de S.Paulo, é o secretario-executivo da Secom, Ricardo Zamora.
A demissão de Doyle ocorreu após ele repostar publicação, em sua rede social, em que chama os apoiadores de Israel de “idiota”. “Não precisa ser sionista para apoiar Israel. Ser um idiota é o bastante”, diz a postagem, noticiada inicialmente pelo jornal O Estado de S. Paulo.
O governo brasileiro, que está na presidência do Conselho de Segurança das Nações Unidas neste mês, tem buscado uma postura de equilíbrio, condenando excesso dos dois lados, e procurando um acordo pelo cessar-fogo.
Em entrevista à Folha de S.Paulo, Pimenta disse que todos os servidores com cargos de chefia devem ter cuidado com as suas declarações porque as consequências acabam recaindo para o governo federal, ainda mais em temas delicados como a guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas.
“Não se trata de falar mal de A ou de B. Trata-se, em primeiro lugar, de tratar com respeito, seriedade, gravidade, delicadeza o momento”, afirmou Pimenta no dia 18.
“Se a conduta do Brasil é uma conduta de respeito, de busca da promoção da paz, de manter uma capacidade de diálogo com todos os atores que estão nesse cenário de guerra e a garantia da busca com segurança das famílias brasileiras que estão lá, é esse tipo de comportamento e postura que esperamos de todos os servidores e servidoras que têm posição de chefia dentro do governo”, completa.
Apesar de ter sido considerada de mau gosto a publicação de Doyle na rede social, interlocutores tanto da Secom quanto do ex-presidente da EBC apontam que o episódio foi apenas a gota d’água.
Ainda na transição, Pimenta havia tentado emplacar dois outros nomes à frente da empresa, mas sem sucesso. Doyle teria sido escolha do próprio presidente Lula (PT), segundo relatos.
A relação não era de proximidade e, recentemente, sofreu dois momentos de desgastes pontuais. Num primeiro, a nomeação por Doyle do editor-chefe da EBC Luis Carlos Braga, que depois foi associado a ideias bolsonaristas. A queda dele ocorreu após surgirem declarações em que Braga nega que houve ditadura no Brasil.
Em outro momento, o jornalista Leandro Demori, no programa DR, entrevistou a deputada Erika Hilton (PSOL-SP). O episódio teria levado a críticas no Planalto, por ocorrer em um momento em que o governo busca se aproximar dos evangélicos.