REINALDO SILVA
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Elas representam 52% da população brasileira, mas ocupam apenas 14% do Congresso Nacional: são 77 entre os 513 deputados federais e 12 entre os 81 senadores. As mulheres são minoria em cargos políticos. Para se ter uma ideia, a cada 100 prefeituras, 12 são comandadas por figuras femininas. A Câmara de Vereadores de Paranavaí não foge à regra. Das dez vagas para o Legislativo Municipal, duas foram preenchidas por mulheres – a empresária Fernanda Zanatta (PSL) e a professora Aparecida Gonçalves (PDT), ambas integrantes da Mesa Diretora, respectivamente, primeira e segunda secretárias.
Antes delas, a participação feminina na Casa de Leis também foi pequena. A primeira gestão na Câmara de Vereadores data de 1952, mas somente em 1993 uma mulher, Helena Ribeiro Porto, assumiu o mandato, permanecendo até 1996. Vieram, depois, Eralda Daminelli Garcia (2001-04) e Zenaide Borges (2013-16 e 2017-20).
Duas mulheres ocupando cadeiras na Câmara de Vereadores ao mesmo tempo é um fato inédito e revela que “a política ainda é um ambiente extremamente masculino”, avalia Fernanda Zanatta. “Se não ocuparmos esse papel, não conseguiremos ser vistas.” Elas por elas. Elas defendendo políticas públicas voltadas para a população feminina, como no caso do projeto que permite que gestantes sejam acompanhadas por doulas em hospitais de Paranavaí. Aprovada por unanimidade, a lei já foi sancionada pelo prefeito Carlos Henrique Rossato Gomes (KIQ).
Cida Gonçalves concorda. A presença de mulheres no Poder Legislativo é essencial para a defesa das causas femininas. A vereadora avalia que elas são mais dinâmicas e têm maior sensibilidade para perceber problemas e encontrar soluções. “Não queremos tomar o lugar dos homens, mas propor um trabalho conjunto. O que precisamos é ampliar a representatividade não só em Paranavaí, mas em todos os municípios”, tanto quanto nas esferas estadual e federal.
Proposições e defesas – A vereadora do PDT exemplifica a importância da participação feminina na vida política, citando o projeto de lei, também aprovado e sancionado, que institui no calendário municipal ações voltadas para o combate à violência e o abuso sexual de crianças e adolescentes. Agora, a Procuradoria Jurídica da Câmara avalia outra proposta de Cida Gonçalves, a inserção do debate sobre maus-tratos ao público infantil no conteúdo escolar. “Crianças e adolescentes precisam aprender a identificar violência e abuso para que saibam se defender e denunciar.” As orientações, explica, serão adequadas a cada faixa etária.
Outro pedido da vereadora é a construção de um abrigo para mulheres vítimas de violência doméstica. O requerimento já foi enviado ao Poder Executivo, uma proposta de oferecer uma casa para acolhimento temporário “até que a situação seja resolvida”, diz. Cida Gonçalves adianta que o posicionamento da Administração Municipal foi positivo à ideia.
Partindo para outro campo de atuação, Fernanda Zanatta tem garantido grande visibilidade à causa animal, antes debatida na Câmara de Vereadores com menos intensidade. Nesta semana, a parlamentar organizou uma reunião com lideranças políticas, representantes das forças de segurança e pessoas da comunidade que se dedicam à proteção dos animais. O encontro deu oportunidade para explicações sobre cuidados, denúncias, políticas públicas e parcerias para atendimento veterinário. A partir da conversa, ficou definido que uma cartilha de protocolos será elaborada e distribuída em Paranavaí.
Orgulho e preconceito – Participar da vida pública é um ato de coragem. A síntese da vereadora do PSL é também manifestação de orgulho. Fernanda Zanatta conta que aceitou participar do pleito eleitoral em 2020 porque sabia que tinha chances de ser eleita. “Disse que se entrasse para a disputa, não seria coadjuvante.” Conseguiu 832 votos. Motivo de comemoração, mas, ao mesmo tempo, o início de uma jornada longa e árdua. “Não é fácil. Sabia que não agradaria a todos, mas tenho visto aceitação muito grande por representar a nova política e ser mulher.”
Entrar na Câmara de Vereadores seria um importante passo para Cida Gonçalves na defesa de seus ideais. Mas a participação no âmbito político teve início anos antes, quando, em 2009, foi convidada para ser secretária de Educação, na gestão de Rogério Lorenzetti. Ela permaneceu no cargo até o fim do segundo mandato, em 2016. À frente da pasta, garante a atual vereadora, foi possível conhecer melhor os trâmites burocráticos da administração pública. A conquista de 1.214 votos a credenciou para assumir o desafio.
Lados – Politicamente, as duas estão em lados diferentes. Cida Gonçalves é oposição ao Governo Municipal. Fernanda Zanatta compõe a base aliada do prefeito KIQ. Os embates fazem parte dos tratos legislativos, mas quando o assunto é defender as mulheres, elas concordam: ainda há muito para ser feito.
O primeiro passo, diz a vereadora do PSL, é vencer o preconceito. Fernanda Zanatta pondera que falhas cometidas por homens são mais bem aceitas na sociedade. “Nós não podemos errar, a cobrança é maior. Precisamos mostrar que sabemos mais, que estamos mais preparadas.” Até mesmo entre os colegas parlamentares há dificuldades. “Precisamos falar mais alto para sermos ouvidas.”
Cida Gonçalves faz uma avaliação mais conciliadora. Percebe menos preconceito dentro e fora da Câmara de Vereadores, mas ainda nota relutância das mulheres em votar em outras mulheres. Reitera que a representatividade é essencial e sugere que o público feminino seja cada vez mais audacioso politicamente.
As vereadoras – Cida Gonçalves tem 54 anos. É casada há 35, mesmo tempo que dedicou ao magistério, sempre na rede municipal de educação. Tem dois filhos, um de 30 anos e uma de 25 anos. Fernanda Zanatta tem 42 anos. Casada há 20 anos, é mãe de duas meninas (4 e 2 anos de idade). Jogadora de tênis, inclusive com títulos paranaenses, é dona de uma escola de idiomas e desfruta da companhia de um cachorro de 20 anos, o Duque.