*Thais Augusta
Cidades congestionadas e habitantes engalfinhados diariamente em trânsitos de dimensões quilométricas tornaram-se rotina para os brasileiros. Não é para menos: dados do IBGE apontam que quase metade dos domicílios brasileiros possui carros e, ainda, 25% optam por motocicletas. Em termos numéricos, são 36,9 milhões de casas com carros na garagem, um aumento de 5,8% em comparação com 2019. Ainda, a Organização das Nações Unidas (ONU) informa que 55% da população mundial vive em áreas urbanas, e a previsão é de que esse número alcance 70% até 2050. Antevemos um verdadeiro nó nas cidades? A preocupação com a mobilidade urbana é cada vez maior ao redor do mundo, e no Brasil, algumas cidades procuram soluções para diminuir a emissão de gases do efeito estufa. Todavia, o país ainda esbarra em desafios para avançar na adoção de conceitos como carsharing (compartilhamento de veículos), valorização do uso ao invés da posse, políticas públicas e escassez de planejamento urbano que serão fundamentais para desenvolver cidades com sistemas de mobilidade de melhor rendimento.
É fato e notório que os automóveis são os principais emissores de gases poluentes, nocivos não apenas ao meio ambiente, mas também à saúde humana. Dados da OMS (Organização Mundial da Saúde) de 2021 revelaram que a poluição atmosférica causa a morte de 7 milhões de pessoas em todo o mundo, sendo 300 mil nas Américas e 70 mil no Brasil. Para compreender melhor a dimensão desses números, é importante destacar que a poluição do ar era a maior causa global de mortes antes da pandemia do covid-19. Os impactos mais conhecidos pela emissão desses gases poluentes são o aquecimento global, o efeito estufa e o efeito smog (diminuição significativa da visibilidade das cidades). No ser humano, esses mesmos gases afetam principalmente as vias respiratórias.
Como os automóveis são fundamentais para a locomoção das pessoas, se faz urgente e necessário entender como novos modelos de mobilidade sustentável podem ser desenvolvidos para complementar as opções de transporte já existentes. Isso inclui a implementação de políticas públicas que garantam a eficiência e a segurança do sistema de transporte. Fato é que repensar a urbanização e a mobilidade nos grandes centros urbanos tornou-se inevitável tanto para as empresas como para o governo como uma medida para conter o aumento da população mundial e os impactos ambientais provocados. A fim de remanejar as cidades, surge o modelo de carsharing, também conhecido como mobilidade compartilhada. Nesse modelo de transporte, o automóvel é alugado por um tempo determinado, contribuindo para a redução do número de veículos particulares. Essa alternativa ecológica faz sentido, já que o compartilhamento viabiliza que mais pessoas utilizem um único automóvel, democratizando a mobilidade tanto para indivíduos como para empresas. A modalidade de locação possui um prognóstico positivo: o relatório de análise de mercado da mobilidade partilhada, intitulado Shared Mobility Market Size, Share & Trends Analysis Report, realizado pela consultoria Grand View Research, estima que o mercado da mobilidade compartilhada cresça cerca de 25% entre 2018 e 2025.
Com espaço para as empresas inovarem nas ofertas e serviços, a mobilidade compartilhada contribui para a redução de carros nas vias e, consequentemente, para a melhoria do trânsito. A menor ocupação do espaço público desafoga as ruas e aprimora a mobilidade urbana. Nessa modalidade, prioriza-se o uso do automóvel em vez de posse: quando o motorista necessita de um veículo, ele o encontra disponível via aplicativo 100% digital. Já no caso das empresas, o carsharing evita que invistam em uma frota ociosa e custosa, incentivando o compartilhamento de veículos entre colaboradores apenas em caso de necessidade. Essa tendência foi recentemente nomeada como Mobility as a Service (MaaS), um conceito que se desenvolve em redor das necessidades do usuário e é focado na redução do uso do automóvel privado. Nesses casos, o usuário pode buscar, reservar e pagar por um carro por meio do celular, contribuindo para um transporte eficiente, sustentável e conectado.
A alternativa de locomoção pode realmente impactar positivamente o mundo ao nosso redor. E a conta é simples: quanto mais pessoas compartilharem um automóvel, menos carros estarão nas ruas. Quanto menos carros houver, menores serão as emissões de gases poluentes. Ainda nesse sentido, a mobilidade sustentável tem potencial para gerar soluções interessantes que melhorem o fluxo das cidades.
A economia compartilhada está transformando o modo como as pessoas se deslocam. É inquestionável que o modelo atual de mobilidade urbana, baseado na utilização extensiva de veículos particulares, é insustentável a longo prazo. A única solução é que as cidades se adaptem e implementem políticas de mobilidade sustentável a fim de reduzir as emissões de poluentes, minimizar a presença do automóvel na cidade e promover meios de deslocamento que respeitem o meio ambiente. Além de cobrar propostas claras e apoio para iniciativas voltadas a cidades com menos poluição por parte de representantes políticos e empresas, o papel do motorista é fundamental, visto que a mobilidade hoje é baseada em um conjunto de decisões e comportamentos individuais. O uso racional e eficiente dos automóveis exige conscientização e aceitação das pessoas, o que só ocorrerá com modalidades de transporte mais sustentáveis e econômicas.