Recentemente, a discussão sobre o Brasil adotar ou não uma moeda comum com os países do Mercosul ganhou destaque nos noticiários. A questões veio à tona após notícias que Brasil e Argentina estariam negociando essa estratégia econômica, com vistas a dinamizar as trocas comerciais entre ambos. Contudo, diversas dúvidas surgiram sobre o assunto: Seria o fim do real? Qual a diferença entre moeda única e moeda comum? Por que tal medida é necessária? Para entrar nessa discussão, primeiro, precisamos entender o significado e as diferenças entre os conceitos de moeda única e moeda comum.
Moeda única se refere ao dinheiro único que uma região utiliza em suas transações comerciais, adotado tanto pelos governos nacionais como pela população desses países. A moeda única mais conhecida do mundo é o Euro, criada pelo Tratado da União Europeia em 1992. Contudo, vale destacar que o processo de proposição e implementação do Euro levou um longo tempo, com discussões iniciais em 1957. Em um contexto da Guerra Fria, o principal objetivo do Euro foi fortalecer a economia dos países que adotassem a moeda, formando um bloco que poderia equilibrar o poder econômico com as potências da época.
Ainda, o uso de uma moeda única faz todo sentido em países de reduzida dimensão territorial, como é o caso dos Estados da Europa Ocidental. A Alemanha, por exemplo, apresenta extensão territorial similar à do estado do Mato Grosso do Sul. O euro facilita o comércio em suas diversas escalas, reduz as taxas de câmbio, simplifica processos, contribui na estabilização da moeda e fortalece a integração econômica regional.
Já a moeda comum está relacionada a um valor de referência do mercado, onde dois países com moedas distintas poderiam negociar suas transações comerciais. O exemplo mais comum é o uso do Dólar como valor de referência. O comércio internacional brasileiro é pautado no Dólar. Comodities como soja, minério de ferro e petróleo são negociados em Dólar, e não em Real. Isso pode gerar algumas disparidades e até dificultar ou impedir transações comerciais entre duas nações.
Esse é exatamente o caso do Brasil com a Argentina. Por essas terem moedas distintas e para evitar disparidades, o Dólar é usado como referência para as transações. Contudo, em funções de diversas crises econômicas que ocorreram na Argentina nas últimas décadas, o seu acesso a moeda americana é restrito. Isso dificulta transações comerciais com o Brasil, por exemplo. Vale destacar que a Argentina é compradora de produtos industrializados do Brasil, o que é interessante para nossa economia.
As conversas sobre uma moeda comum entre Brasil e Argentina ainda estão começando. Até existe uma sugestão de nome para essa futura unidade de referência, o Sur. No entanto, diversas discussões precisam ser feitas e acordos internacionais firmados. Ainda, estudos adicionais precisam ser executados a fim de deixar claro quais as vantagens para o Estado brasileiro nessa ação, bem como detalhar possíveis riscos e medidas protetivas para a nossa economia.
*Vera Cristina Scheller dos Santos Rocha, é licenciada em Geografia e Especialista em Gerenciamento de Recursos Ambientais e em Educação Ambiental. Professora da Área de Geociências do Centro Universitária Internacional UNINTER.
Otacílio Lopes de Souza da Paz, é geógrafo e Doutor em Geografia. Professor da Área de Geociências do Centro Universitário Internacional Uninter