REINALDO SILVA
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Os depoimentos surgem um após o outro e revelam a insatisfação dos moradores da Vila Operária, em Paranavaí: querem o fechamento definitivo do terreno utilizado há décadas para depositar lixo, o chamado “Buracão”. Na tarde de ontem (10), conversaram com o promotor de Justiça Robertson Fonseca de Azevedo e pediram providências.
Suely Cristina Vagetti disse que o acúmulo de resíduos e a circulação de pessoas tornam comum a incidência de focos de incêndio. O fogo gera fumaça e prejudica toda a comunidade vizinha. “Temos asilos, escolas creches. Muitos pais têm de buscar os filhos na escola porque passam mal com a fumaça.”
Não faz muito tempo, ela participava de um culto religioso quando a fumaça invadiu o templo. As pessoas se sentiram sufocadas e tiveram dificuldades para continuar as orações.
Franciele de Souza Gonçalves contou que já testemunhou a chegada de uma ambulância à Escola Municipal Ayrton Senna da Silva, conhecida como Caic, para socorrer uma criança que precisou de atendimento, também por causa da fumaça.
Ivelize Joana Alves cuida de três idosos – os pais e a tia. O pai tem enfisema pulmonar e precisa de medicação e ajuda mecânica para respirar. Recentemente sofreu as consequências da fumaça gerada pelo incêndio no Buracão da Vila Operária e ficou internado durante oito dias na UTI da Santa Casa.
A situação recorrente agrava os problemas respiratórios de Poliana da Silva Bernardino, que também tem de se preocupar com o filho recém-nascido. No último incêndio que se espalhou pelo depósito de lixo, mãe e filho precisaram ir para a casa de familiares, longe dali.
Ministério Público – O promotor Robertson Fonseca de Azevedo explicou para a comunidade que iniciou um procedimento em 2016 e desde então vem reunindo informações sobre o Buracão da Vila Operária.
A soma dos depoimentos das moradoras impulsionará o processo.
Da mesma forma, o Ministério Público pretende entrar em contato com as instituições próximas ao terreno para que se manifestem sobre a situação, se assim quiserem.
Tudo isso será transformado em uma ação judicial que pedirá providências à Prefeitura de Paranavaí. Ainda não é possível falar em prazos, afinal há uma série de etapas até a decisão final, mas a cobrança dos moradores deve acelerar o desenrolar do caso.
Azevedo explicou que de 2016 para cá houve avanços, como a restrição de itens com descarte permitido e o fechamento do espaço com alambrado, trazendo redução de danos associados, disse. “Antes todos jogavam lixo.”
O trabalho conjunto do Município com a Promotoria levou à proibição do uso do lixão por caçambeiros, que dispõem de dois terrenos licenciados pelo Instituto Água e Terra (IAT) para o descarte de resíduos, ambos em pontos de erosão na região do Distrito de Sumaré.
O promotor fez questão de informar aos moradores que não se trata de uma “guerra” e que é comum apresentar ações judiciais. Neste caso, como em outros, o objetivo é buscar soluções para os problemas da população.
Novos locais – Segundo o promotor, para desativar definitivamente o Buracão da Vila Operária seria necessário indicar novo local para o descarte de lixo. Houve a tentativa da Prefeitura de Paranavaí com a instalação dos chamados ecopontos, próprios para alguns tipos de resíduos, por exemplo, restos de construção civil e de jardinagem.
A princípio seriam dois ecopontos, o primeiro no Jardim Morumbi, próximo ao campus da Universidade Estadual do Paraná (Unespar). A estrutura está praticamente pronta, mas o processo licitatório para definir a empresa administradora não reuniu interessados.
O segundo ecoponto ficaria no Parque dos Ipês, região do Jardim São Jorge, no entanto a área escolhida não poderia ser utilizada para descarte de lixo. O Ministério Público interferiu, e agora a Prefeitura de Paranavaí busca alternativas.
Município – Em contato com o DN, a Secretaria de Comunicação do município disse que buscará informações para atualizar as ações em andamento.