Para algumas mulheres o Dia das Mães tem um significado ainda mais especial. São pacientes que passaram pelo câncer e, posteriormente, conseguiram se tornar mães.
É o caso de Camila Vaticola dos Santos, fisioterapeuta oncológica, de 28 anos, que passou por um tratamento contra o câncer de mama e conta que o risco da infertilidade foi sua principal preocupação após o diagnóstico da doença. “Eu sempre tive o sonho de ser mãe, de uma gestação minha. Quando engravidei, meu corpo ainda tinha efeitos do tratamento, eu achei que não estava ovulando. Foi um presente do céu, o maior marco de toda essa jornada. Meu filho é o troféu de todo esse caminho dolorido e sofrido que foi o câncer”, conta. A gestação foi considerada de alto risco, mas seguiu sem nenhuma complicação. “Devido a radioterapia, ocorreu uma estenose dos ductos da mama e, na mama tratada, o leite não desceu. Hoje, a Camila mãe e a Camila paciente oncológica se tornaram juntas um combo de força”.
Já a maquiadora, Carem dos Santos Neves, de 33 anos, descobriu um Lipossarcoma na pelve, em 2018. A radioterapia afetaria o seu útero, impedindo uma futura gestação. Foi quando ela soube da técnica de transposição uterina, na época ainda um estudo em andamento, mas que poderia preservar o órgão para uma gravidez posterior. “Eu sabia que a radioterapia iria afetar meu útero e arrisquei realizar a cirurgia de transposição em busca de um SIM para a possibilidade de ser mãe, porque o NÃO eu já tinha. Quatro anos depois do tratamento contra o câncer, fiquei grávida”, relembra.
O que dizem os médicos – O câncer não é uma doença que torna a paciente infértil, a não ser que tenha atingido órgãos reprodutivos. Mas muitas vezes o tratamento contra a doença, que envolve quimioterapia e radioterapia, pode levar à morte dos óvulos ou dano a outros órgãos do sistema reprodutivo, causando a infertilidade.
Quando a doença ocorre em idade reprodutiva, existem algumas medidas que podem ser adotadas para evitar que a infertilidade aconteça.
Dr. Reitan Ribeiro, cirurgião oncologista. Foto: Divulgação/ Denis Ferreira Neto
Foi pensando em garantir a possibilidade de ser mãe às mulheres que passaram pelo câncer que o cirurgião oncológico de Curitiba, Dr. Reitan Ribeiro, desenvolveu a técnica mundialmente conhecida como transposição uterina, que preserva o útero no tratamento de radioterapia na região pélvica. “Trata-se de uma cirurgia que retira o útero do seu local original e o reposiciona na parte de cima do abdômen, para preservá-lo durante o tratamento. No final das sessões de radioterapia, os órgãos reprodutivos são realocados no local original”, explica o médico que atua no Eco Medical Center e é membro do Instituto de Cirurgia Robótica do Paraná (ICRP).
A técnica mantém a saúde dos órgãos reprodutivos, sem que o câncer comprometa útero, trompas ou ovários. “A cirurgia é feita de forma minimamente invasiva, com o auxílio da plataforma robótica. O robô permite mais precisão e preservação da região tratada, mantendo a qualidade das funções sexuais”, ressalta.
A transposição pode ser indicada para aquelas que precisam de radioterapia devido a tumores no reto, intestino ou vagina e casos de sarcomas, que são tumores malignos em tecidos moles, como os músculos, gorduras e tendões.
No que se refere ao câncer de mama, o médico mastologista do Eco Medical Center, Dr. Rodrigo Bernardi, explica que é possível engravidar após um tratamento de câncer que afetou as mamas. “Cerca de 75% destas pacientes têm indicação de tomar um bloqueador hormonal que é teratogênico. Então, se ela quiser engravidar, orientamos aguardar pelo menos dois anos com o uso dessa substância, para depois fazer uma pausa da medicação e possibilitar a gestação sem risco para o bebê”, afirma o Dr. Rodrigo.
Ele reforça que, mesmo gestante, é importante manter os exames de acompanhamento e as consultas com o médico mastologista e oncologista. “A ultrassonografia de mamas é recomendada nestes casos, apesar de ser possível fazer a mamografia com proteção, nós evitamos. Os demais cuidados são comuns às demais gestantes e a paciente que teve um câncer de mama pode engravidar e ter uma gestação segura como todas as mulheres.”
Em todo o Brasil são esperados 625,9 mil diagnósticos de câncer a cada ano, sendo 316,2 mil em mulheres, de acordo com dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA). Apenas no Paraná o total de casos chega a 35 mil, com 16 mil mulheres afetadas ao ano. Estudos estimam que, do total, 13% das neoplasias afetam mulheres em idade fértil, abaixo dos 50 anos de idade.
Radiologia – Geralmente as mulheres em idade fértil que tem filhos após o câncer são jovens, com menos de 45 anos de idade, e, nesse caso, fizeram algum tratamento oncológico. De acordo com o diretor médico e radiologista do Eco Imagem, em Curitiba, Lúcio Eduardo Klüppel, é importante fazer os exames de imagem, conforme a solicitação médica.
“Na maioria dos casos são solicitados os exames de acompanhamento, com uma frequência maior até o segundo ano. A partir do terceiro fazemos uma vez ao ano e, no quinto, geralmente a paciente já é considerada curada do tumor. Depois disso é indispensável ficar alerta em relação aos exames de acompanhamento, como mamografias e ultrassonogradias”, explica Lúcio.