Dados levam em conta o período de 2015 a 2024 e consideram gestantes de até 17 anos nos 28 municípios da 14ª Regional de Saúde de Paranavaí
REINALDO SILVA
Da Redação
A gravidez na adolescência configura um grande desafio para a saúde pública. Essas gestações, muitas vezes não planejadas, apresentam maiores riscos obstétricos, principalmente em razão da imaturidade biológica das adolescentes, mas também pela menor adesão ao acompanhamento pré-natal.
O medo do julgamento social e da reação dos familiares leva as adolescentes a ocultar a gravidez, o que dificulta o acesso oportuno aos serviços de saúde. “É essencial que o atendimento seja buscado assim que houver suspeita de gestação”, orienta Dayane Lacerda Buchner Garcia, referência técnica em Saúde da Mulher, Criança e Adolescente da 14ª Regional de Saúde de Paranavaí.
De 2015 a 2024, os 28 municípios do Noroeste do Paraná somaram 4.781 casos de gravidez na adolescência, sendo 208 gestantes com menos de 14 anos de idade e 4.573 entre 15 e 19 anos. Considerando esse mesmo recorte de tempo, Paranavaí, maior cidade da região, registrou 45 gravidezes entre meninas de até 14 anos e 1.207 entre o público de 15 a 19 anos.
Os dados da 14ª Regional de Saúde foram compilados por Jane Aparecida Camargo, referência técnica do Grupo Técnico de Avaliação de Óbitos. A partir do levantamento, é possível conhecer o perfil das adolescentes grávidas entre 2015 e 2024 no Noroeste do Paraná quanto à escolaridade.
Para dar uma ideia, na faixa de 12 a 17 anos de idade, três não tinham qualquer nível de formação escolar, 43 cursavam ou haviam concluído o ensino fundamental e 2.134 estavam no ensino médio.
Educação – De acordo com a chefe do Núcleo Regional de Educação (NRE) de Paranavaí, Adélia Paixão, atualmente há 50 adolescentes grávidas em colégios da rede estadual nos 21 municípios da área de abrangência: 20 em Paranavaí e 30 nos demais.
Adélia Paixão explica que as ações da Secretaria de Estado da Educação (Seed) para a prevenção da gravidez na adolescência estão previstas no calendário escolar. Cada estabelecimento tem autonomia para desenvolver as atividades nesse sentido.
A chefe do NRE cita o caso do Colégio Estadual Pedro Viriato Parigot de Souza, de Mirador. No ano passado, a equipe da escola distribuiu a programação em diferentes meses – abril, maio, junho, julho, agosto, outubro e novembro.
No primeiro momento, o trabalho se concentrou em falar da gravidez precoce, com vistas a despertar nas meninas o sentimento de responsabilidade sobre a própria vida. Também foi oportunidade para falar de casamento infantil e das consequências da gestação.
Os alunos apresentaram dúvidas, posteriormente respondidas. Os pais receberam informações. Houve tempo para promover rodas de conversa e para a elaboração de cartas de cunho pessoal.
Os resultados foram muito positivos, conforme avaliação de Adélia Paixão.
Rede de saúde – Dayane Lacerda Buchner Garcia, da 14ª Regional de Saúde, destaca que as unidades básicas de saúde estão estruturadas para acolher e acompanhar as gestantes de forma humanizada. Adolescentes com menos de 15 anos são classificadas como risco intermediário e recebem atendimento tanto da UBS quanto do Ambulatório Médico de Especialidades (AME). Os serviços são prestados por equipes multiprofissionais compostas por médico, enfermeiro, nutricionista, psicólogo e assistente social.
Todas têm direito a exames laboratoriais nos três trimestres, exames de imagem, avaliação odontológica e vacinação conforme o calendário pré-natal. A legislação também assegura a presença de acompanhante durante o pré-parto, o parto e o pós-parto.
Como consta do levantamento da 14ª Regional de Saúde, de 2015 a 2024, dos 2.234 partos realizados em adolescentes de até 17 anos, foram 496 normais e 1.737 cesarianos – do total de procedimentos, apenas um não teve o tipo informado.
Atenção primária – Educação em saúde, planejamento sexual e reprodutivo e distribuição de métodos contraceptivos são algumas atribuições da Atenção Primária à Saúde (APS). Da mesma forma, cabe à APS oferecer capacitação das equipes para acolhimento humanizado, acompanhamento contínuo do pré-natal, monitoramento dos exames e visitas domiciliares para busca ativa de gestantes.
“Os agentes comunitários de saúde (ACS) são fundamentais nesse processo, atuando como elo entre a comunidade e as equipes de saúde. Eles acompanham a assiduidade das gestantes, identificam faltas a consultas e exames, compartilham informações relevantes e sinalizam eventuais barreiras ao acesso”, detalha a referência técnica em Saúde da Mulher, Criança e Adolescente da Regional de Saúde.
Dayane Lacerda Buchner Garcia também informa que o hospital Santa Casa de Paranavaí é a referência dos 28 municípios da região para os partos e o atendimento neonatal (até 28 dias de vida) nos casos de gestantes classificadas como risco intermediário e alto risco.