Embora não haja entre os lusófonos unanimidade conceitual quanto à lusofonia, seu coletivo fragmentado com imaginários diversos em conceitos multifacetados quanto à cultura, política e língua, se encontra a marca pelo uso da língua, usos e costumes que, por si, constroem o alicerce para que se dê uma comunicação multicultural independentemente da existência de hibridismos e mestiçagens, sem interferência na sua endogenia.
Com respeito ao Brasil, tem seu nascedouro nos meados do século XVI com as grandes navegações, quando, pelos contatos com os povos visitados se espalhou difundindo cultura e língua, tanto pela atuação em primeiro dos próprios navegantes, quanto ao importantíssimo papel dos missionários e colonos que passaram a se assentar transferindo aos originais, a cultura lusa.
Vê-se no primeiro documento oficial que se tem notícia, a famosa carta de Pero Vaz de Caminha, escrevente-mor da expedição de Pedro Álvares Cabral, ao aportarem em praias brasileiras:
“E depois de acabada a missa, quando nós sentados atendíamos a pregação, levantaram-se muitos deles e tangeram corno ou buzina e começaram a saltar e dançar um pedaço.” […] …Passou-se então para outra banda do rio Diogo Dias, que fora almoxarife de Sacavém, o qual é homem gracioso e de prazer. E levou consigo um gaiteiro nosso com sua gaita. E meteu-se a dançar com eles, tomando-os pelas mãos, e eles folgavam e riam e andavam com eles muito bem ao som da gaita.” … (ao Rei Manuel I, em1500).
Além do deslumbramento diante do Novo Mundo, é o espírito receptivo dos nativos em relação aos estranhos que facilita primeiro o escambo e, depois, a festa em comum na troca das experiências com sons de instrumentos, danças e até de composições artísticas e poéticas.
Tomando o Brasil como experiência primeira da expansão lusófila intercontinental, não se deve esquecer dos países africanos como Cabo Verde, Angola, São Tomé e Príncipe, Moçambique, e Guiné-Bissau, componentes da denominada PALOP – Países Africanos de Língua Portuguesa, além de Timor-Leste além de outros lugares onde essa língua é a oficial, como Goa, Macau, Ceilão, Cochim, Málaga e Damão, (como diz Lourenço, 2001) – a lusofonia é inconcebível sem a inclusão de Galiza e outras regiões onde se adota o Português como língua, como: Annobón, Ziguinchor, Mombaça, Zamzibar, Almedilha, Cedilho, A Codosera, Ferreira de Alcântara, Olivença, Vale de Xalma.
Cuja originalidade e multiplicidade cultural produz em cada lugar um contexto próprio envolvido não apenas com a questão linguística, mas com o espírito – na qualidade de essência – de conjunto cultural que lhe é atinente, para concordar que a Lusofonia deva ser estudada como de raiz portuguesa, mas de similitudes brasileira, angolana, moçambicana, cabo-verdiana ou são-tomense, à medida que cada qual possui sua própria especificidade.