Ajeita a tralha e latinhas no isopor.
Pescaria promete.
Dia de sol, bonito, vento fraco.
Telefone toca, é Maurício dizendo que não vai.
Fora pego por um caganeira.
“Que azar. Que pena!”. Amigo bom taí. Deu as cervejas e não vai pescar.
“A que horas volta?” – mulher pergunta.
“Seis ou mais se eles estiverem beliscando” – é a resposta.
Ela sorri. Ele se apressa.
Chega no rio, joga as iscas antes de descer as tralhas.
Putz! Anzol enrosca numa rede.
“-Que maçada!”
Puxa devagar. Não quer estourar a linha.
“- Caramba! Tá cheia!” – diz a si próprio.
Conta rapidamente: 32 lambaris, 9 bagrinhos, todos vivos.
Rede rodou na correnteza.
“- Que puta sorte.”
Olha para os lados, para trás, para frente. Procura o dono e não vê ninguém.
Silencioso como chegou, põe tudo no embornal e sai.
“- Maurício deu as cervejas – pensa – darei a peixada.”
Chega, entra, nota silêncio incomum.
O fogão tá frio.
Faz carranca, abre bem os olhos e se pergunta:
“- Será que ela foi almoçar na mãe?”
Escura ruído.
Rapidamente abre a porta do quarto e vê a mulher nua, trêmula na cama.
Debaixo, uma nesga de perna que treme.
Manda sair.
É o Maurício.
“do livro Azarinho e o Caga-Fogo, de 2014, do autor.”