Por Lucelmo Lacerda
A prática do bullying, apesar de fortemente condenada, ainda é comum em todo o mundo. Infelizmente, o autista se destaca como a “vítima perfeita” para esse tipo de abuso. Isso porque o autismo não é uma condição visível, como a síndrome de Down. Especialmente nos níveis mais leves, ele se manifesta a partir de nuances que não são tão fáceis de identificar. Uma das principais características, porém, é a dificuldade em interagir socialmente, o que pode transmitir a imagem de um indivíduo soberbo ou arrogante.
Justamente pela falta de habilidades sociais, o autista pode ser considerado a “vítima perfeita”. Na maioria das vezes, ele não consegue identificar uma série de situações de violência simbólica ou não sabe o que fazer para evitar essa violência. Sou autista e vivi situações terríveis na infância e na adolescência em diferentes escolas. Meu filho, também autista, sofreu os mesmos abusos de colegas de classe na primeira infância e só posteriormente passou a ser protegido pela turma, quando as deficiências dele se tornaram mais notórias, o que não acontece nos casos de autismo leve.
O bullying, veja bem, não se caracteriza por uma criança que xinga a outra, um adolescente que briga com o outro. Como professor, já presenciei esses atritos muitas vezes em sala de aula. Esses casos não costumam escalar, sendo resolvidos facilmente pelos próprios envolvidos. O bullying tem como raiz ataques coordenados e contínuos, muitas vezes praticados coletivamente, com a intenção de humilhar, ofender e magoar. Quem é agredido, por estar sozinho ou se sentir impotente, não consegue revidar na mesma proporção.
Essa perseguição constante afeta os autistas de forma mais pungente. Dados mostram que as taxas de depressão e ansiedade são muito maiores em pessoas com autismo leve que naquelas com desenvolvimento típico. Eles também são mais propensos ao suicídio, até nove vezes mais comum nesse público. Então, esse é um problema que só conseguiremos resolver coletivamente, olhando com mais atenção para essa parcela da população.
Para enfrentar o bullying, principalmente da pessoa com autismo, precisamos trilhar dois caminhos. Primeiro, é preciso trabalhar a conscientização por meio de um calendário fixo de debates sobre deficiência. A sociedade precisa saber o que é o autismo e conhecer essas diferenças para respeitá-las. Outro caminho é incentivar o treino de habilidades sociais do autista, capacitando-os para reconhecer, enfrentar e denunciar situações de bullying. O ideal é que ambas as alternativas sejam realizadas concomitantemente, é o que possui os maiores e mais sustentáveis resultados de pesquisa.
É imprescindível refletirmos sobre o impacto devastador dessa forma de violência e agirmos coletivamente para combatê-la. Somente através da união de esforços e da construção de uma cultura inclusiva e respeitosa, poderemos proteger os autistas e garantir que todos vivam em um ambiente seguro, acolhedor e livre de discriminação. Juntos, podemos fazer a diferença e promover uma sociedade mais empática e justa para todos.