Texto: Ana Cecilia Paglia
Supervisão: Reinaldo Silva
Hoje o dia começou como sempre, o alarme tocando e o sono me consumindo. Cambaleando, me levanto, tomo banho e, com muita luta, passo minha roupa, tomo café e vou pegar meu ônibus. Passo tanto tempo dentro do transporte público, que reparar em algumas coisas se tornou costume. Percebo as pequenas gentilezas, as senhoras conversando e se elogiando na rodoviária, a mulher contando as moedas da passagem e o bom dia caloroso do motorista, que parece sempre cansado, mas disposto a jogar papo fora.
Muitas vezes, não tem lugar para sentar, devido à superlotação, então fico em pé, em um lugar específico perto da porta, pois nunca se sabe quando será necessário pular para fora. Embora pense nisso na brincadeira, vivo imaginando minha reação caso algo aconteça. Eu choraria? Gritaria? Não sei, e sendo sincera, não desejo saber.
Ao chegar ao ponto, onde eu e muitas pessoas, a maioria mulheres, descemos, eu vou caminhando até meu estágio, lugar onde me descubro e aprendo a graça do jornalismo.
Na hora de ir embora, vou para meu ponto e sempre me sinto triste ao lembrar que o banco foi tirado. Quem em sã consciência arrancaria uma coisa que parece tão banal para uns, mas é tão importante para outras? Passei muito tempo ali, me protegendo da chuva e fazendo amizade, uma das minhas amigas vejo assim que chego ao local. Se me perguntassem o que eu e uma mulher que tem duas filhas e uma neta têm em comum a ponto de serem amigas, não saberia responder, apenas somos. Como sempre, nós atualizamos de tudo e entramos no circular.
Dificilmente conseguimos sentar juntas, afinal, voltamos em um horário de pico, quando o sol é totalmente presente em um lado do veículo, e adivinha? Ninguém gosta de sentar ao sol.
Só que naquele dia em especial, a minha amiga e eu conseguimos sentar à sombra, perto uma da outra. Conversamos, e a senhora que estava ao lado dela se enturmou com a gente. Com o passar dos dias, um dia sim e um dia não, a senhora estava presente e guardando lugar para minha amiga. Eu, como gosto de estar incluída nas conversas, sempre tentava conseguir um lugar no lado da sombra e perto delas, mas nem sempre conseguia, tendo que sentar ao sol. Apesar disso, criamos um laço peculiar de amizade que apenas nós três entendíamos.
Os meses foram passando e a senhora sempre fazia a gentileza de guardar um lugar para minha amiga, e quando ela não ia, guardava para mim.
Acho que foi esse gesto de gentileza que nos uniu, pois é reconfortante ter alguém assim na vida. Penso, na verdade, que é a gentileza que move o mundo, porque nascemos sozinhos, mas sempre nos encontramos em gentilezas feitas pelo próximo.
Mas já vou indo, pois hoje não desejo sentar do lado do sol.
Em tempo: 13 de novembro marca o Dia Mundial da Gentileza, celebrado em diversos países, inclusive no Brasil.