*Dirceu Cardoso Gonçalves
Existem no Brasil 65.644 veículos elétricos. Número de agosto último, relatado por uma empresa dedicada à expansão do uso de eletricidade, inclusive automotiva. A presença dessa frota demonstra que a opção é um caminho sem volta, principalmente porque as indústrias automobilísticas, pressionadas pelas políticas ambientais e incentivadas pelo desenvolvimento de baterias eficientes, já têm programação para migrar seus produtos do motor à explosão para o elétrico e, com isso, “descarbonizar” o planeta, como dizem os ambientalistas. O noticiário dá conta de que o mercado brasileiro de veículos elétricos é crescente e se amplia em função de importantes variáveis. A disponibilidade de fontes de abastecimento e recarga das baterias é básica, mas também se cita a grande diferença entre o custo de rodar com combustíveis líquidos e com eletricidade e, mais recentemente, a alta internacional do petróleo. Atribui-se, até, como motivo dessa corrida ao elétrico, o custo elevado do álcool anidro adicionado à gasolina e dos óleos vegetais que completam o diesel.
Fontes do setor revelam que a comercialização de veículos elétricos cresceu 66% em 2021 e o ano deverá terminar com o emplacamento de 28 mil novas unidades. Os primeiros veículos movidos à eletricidade começaram a circular por aqui em 2015 e vêm aumentando. O fator de inibição é o seu preço – o mais barato custa quase R$ 150 mil – mas, na outra ponta, há a diferença do custo do quilômetro rodado. Segundo relatórios de pesquisas disponíveis, é de 84% a economia por rodar com eletricidade em vez de com gasolina, o que compensa até mesmo o preço elevado do veículo. Existem ainda outras variáveis e comparações, como a existência de 2500 peças num veículo convencional e apenas 250 no elétrico. Isso baixa o custo e a necessidade de manutenção. Com custo menor de combustível e consertos, os transportadores – ônibus, caminhões, taxis, vans e assemelhados – poderão baixar o preço dos seus serviços, atraindo mais clientes e favorecendo a economia e desenvolvimento do país.
O fenômeno de eletrificação não é novo. As primeiras experiências de carro elétrico ocorreram a partir de 1859, quando o belga Gaston Planté apresentou ao mundo a bateria de chumbo e ácido. A partir dali muitos experimentos com veículos foram realizados, mas o petróleo venceu como insumo energético. E – registram os operadores do novo carro elétrico – o setor ainda hoje enfrenta a oposição das petroleiras e dos produtores de etanol e outros combustíveis líquidos.
O objetivo desse artigo não é apresentar o carro elétrico, mas alertar as autoridades (Executivo e Legislativo) e os centros do saber, para a necessidade de se apressar com a normatização, política de incentivos e outras providências que coloquem o veículo ao alcance da população. Já existem algumas vantagens a quem circula movido a eletricidade – isenção total ou parcial de IPVA, não pagamento de zona azul, entre outras – mas é preciso criar uma política da eletricidade automotiva para que a área não seja sequestrada por grupos econômicos como ocorreu com o petróleo. Precisamos desse insumo a serviço do país e da população; jamais cativo a grupos econômicos e até de empresa estatais como a Petrobrás – que funcionam como ilhas da fantasia e tem política salarial nababesca, acima de toda e economia nacional que, paradoxalmente, paga por esses exageros através do alto preço dos produtos.
O carro elétrico tem de vir como indutor do desenvolvimento e bem-estar da sociedade. Nunca dominado por grupos econômicos com lucros astronômicos. A população, teoricamente dona de tudo o que há no país, deve ser beneficiada. E, para isso, carece do trabalho, discernimento e, até, do patriotismo do presidente da República, governadores, senadores, deputados e todos os demais eleitos como seus representantes. Esses homens e mulheres têm, hoje, a obrigação de gestar o carro elétrico para o povo. Não se render a impostos elevados e lucros elevados aos próprios governos e capitalistas. Ainda mais: é preciso cuidar da ampliação do parque de geração para evitar a falta ou escassez de eletricidade, que passará a ser o combustível da frota. O trabalho os espera. Mãos à obra!
*Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)