(44) 3421-4050 / (44) 99177-4050

Mais notícias...

Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

Mais notícias...

Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors
Compartilhe:

COMPORTAMENTO

O crescimento dos antivacinas no Brasil

*Natalia Pasternak

O movimento antivacinas nunca teve presença forte no Brasil. A população brasileira sempre confiou nas vacinas, e levar os filhos ao posto de saúde para receber as doses previstas no calendário anual sempre foi atitude tão corriqueira quanto levá-los à escola. Um programa nacional de imunizações de excelência garantiu, durante os últimos 50 anos, que o país não sofresse os impactos do negacionismo de vacinas com a mesma intensidade dos Estados Unidos e Europa.

Recentemente, no entanto, o cenário começou a mudar. Em novembro de 2020, a primeira associação brasileira deliberadamente antivacinas fez sua assembleia inaugural. A Associação Brasileira de Vítimas de Vacinas e Medicamentos (Abravac) consolidou-se formalmente em fevereiro de 2021. Seu site exibe a estratégia típica do negacionismo: depoimentos assustadores de supostos efeitos adversos, especialistas que não são levados a sério pela comunidade cientifica falando sobre os perigos da vacinação, discurso obscurantista disfarçado de defesa das liberdades individuais e disseminação do medo.

Políticos farejaram um novo nicho, e na gestão do ministro Marcelo Queiroga o negacionismo virou política pública de saúde. A desinformação sobre vacinas no Brasil hoje vem de fonte oficial. O presidente da República e ministros disseminam o medo e a desconfiança.

Vacinas infantis são o alvo mais fácil. Os mercadores da dúvida sabem que pais e mães com filhos pequenos são vítimas fáceis de incerteza e angústia. Afinal, uma coisa é um adulto decidir se vacinar e assumir para si os possíveis riscos associados. Outra coisa é decidir em nome de uma criança.

Calcular riscos envolvendo a saúde de nossos filhos traz um medo de errar muito grande. A tentação de optar por não fazer nada é enorme: se a vacina trouxer algum problema, quem mandou aplicar se sente culpado. Se a criança, não vacinada, ficar doente, pode-se dizer que a culpa é do acaso, ou do destino.

Isso é o que chamamos, em comunicação de ciência, de viés de omissão. É compreensível, mas errado: não vacinar não é deixar as coisas nas mãos da Providência, é escolher expor a criança a um risco muito maior do que o trazido pela vacina.

O resultado do apelo sinistro à insegurança dos pais já aparece. Diversos municípios no Rio de Janeiro, Santa Catarina e Rio Grande do Sul já reportam números abaixo do esperado de crianças vacinadas.

Estabelecido o movimento antivacinas, agora com apoio do Estado, só informar não basta. Pais e mães precisam ser acolhidos, suas incertezas respeitadas ao mesmo tempo em que tentamos debelá-las, e o movimento antivacinas, desconstruído. Isso envolve entender como está organizado no Brasil, e não apenas ficar reverberando nas mídias sociais que vacinas são legais. Campanhas precisam ser organizadas pelos estados e municípios, e os propagadores do negacionismo devem ser expostos e punidos, inclusive os infiltrados no governo federal, alinhado a uma ideologia de extrema direita que disfarça ignorância, machismo e racismo como “liberdade individual”. Quanto tempo até que a confiança em todas as vacinas infantis seja abalada?

O ano eleitoral de 2022 traz uma oportunidade para o exercício da cidadania do brasileiro: a oportunidade de cobrar dos candidatos uma posição perante o negacionismo científico. Não apenas cobrar investimento em ciência, mas cobrar o respeito à ciência nas políticas públicas. É o momento de perguntar para o seu candidato: qual o seu plano para restaurar as campanhas de vacinação? Para restabelecer o PNI? Para fortalecer o SUS? Para conter o desmatamento e promover agricultura sustentável? A ciência ocupou o debate público nos últimos dois anos, em pé de igualdade com economia e política. Não vamos permitir que seja novamente jogada para escanteio.

* Natalia Pasternak é bióloga e divulgadora científica brasileira

Compartilhe: