Nos últimos anos, tivemos a oportunidade de darmos passos significativos quanto à comunhão com a Santíssima Trindade, através do “Projeto de Evangelização Rumo ao Novo Milênio – 1996- 2000, na organização pastoral da Igreja particular o princípio da subsidiariedade”, pelo qual a cada ano se refletiu, celebrou uma das pessoas da Trindade Santíssima. O que nos ofereceu momentos de aprendizado na convivência prática com Deus e também a ação de cada uma das pessoas na nossa história pessoal, comunitária, eclesial, na nossa história de salvação.
Após o Concílio Vaticano Segundo (l965), a Teologia não se preocupou tanto com os “conceitos” de Deus, para definir quem é ele, mas tem se preocupado mais em apresentar um Deus que se conhece, que se define mais pela relação pessoal com o homem, um Deus Comunhão relacional.
Por isso, as imagens de Deus que tínhamos, ou que ainda temos, foram superadas: “O Deus-Olhão” – que tudo vê e que parece que fica nos vigiando pronto para nos castigar caso cometamos um erro. Unida a esta imagem “O Deus-Juiz – pronto para julgar e condenar e mandar-nos para o inferno.” “O Deus como um velho de barbas sentado num trono” e distante. “Um Deus-distante” que não se importa conosco. “O Todo-Poderoso” – que impõe medo.
As várias tentativas de explicar como Um pode ser Três e por isso o uso de figuras como o triângulo com um olho no meio, três velas acesas etc. Tentativa de explicar o inexplicável através de conceitos. Tudo isso deixava Deus distante da vida da gente e não nos animava para uma relação mais pessoal.
As experiências cristãs e eclesiais, como disse, nos trouxe outro modo de apresentar Deus.
A definição “Deus é Amor”, registrada por São João, descreve de per si, que o Pai, o Filho e o Espírito Santo constituem uma comunidade divina na unidade do Amor.
A Sagrada Escritura, que nos revela o Pai, o Filho e o Espírito Santo, e cada um em sua função, nunca utilizam o intelectivo Trindade para falar da íntima comunhão e indivisa unidade das três pessoas divinas, mas o termo existencial, Amor.
Posteriormente aos textos bíblicos a Igreja, devido às circunstâncias culturais, recorre à expressão “Santíssima Trindade”, mas é ciosa em logo afirmar que se trata de um só Deus em três Pessoas.
Os Tratados sobre a Trindade tentam explicitar, cada um de modo mais amplo e completo possível, este mistério de uma Comunidade de Três Pessoas em uma só natureza divina, felicidade plena para si, para dentro da Santíssima Trindade, e irradiação e meta de felicidade plena para fora de si, nas criaturas, fruto do transbordamento do Amor Trinitário.
O esforço da Teologia em tentar explicar a Santíssima Trindade certamente é útil e mesmo necessário. Mas o Mistério do Amor ultrapassa a fala da ciência. E o mistério de Deus-Amor não cabe nos limites da Teologia. É questão de experiência, experiência mística. E o mesmo, pode-se afirmar, acontece com a dimensão comunitária da vida humana. Podemos e devemos refletir sobre ela, mas é mais importante vivê-la.
Criados à imagem e semelhança de Deus, homem e mulher, somos estrutural e realmente comunitários. O autor inspirado coloca na boca de Deus Criador esta frase: “Não é bom que o homem esteja só” (Gn.2,18) expressando que uma das características da imagem e semelhança do homem e da mulher com Deus é o não poder viver em solidão. Assim como Deus não é solitário, mas Comunidade, caso contrário não seria Deus-Amor, de modo semelhante o homem e a mulher são, por natureza, comunitários, caso contrário não seriam Humanos.
A Comunidade de Deus Pai, Filho e Espírito Santo é o Alfa e Omega da dimensão comunitária do homem e da mulher. Na Trindade Santíssima, toda a Comunidade Humana tem a sua fonte e nela deve ter o seu cume de perfeição. Este dado antropológico, realizado em plenitude em Jesus Cristo, é reafirmado por Ele como essencial para a felicidade do homem e da mulher e por Ele colocado como sinal característico de quem, seguindo seus passos, quer chegar a esta almejada felicidade.
Ser Comunitário não é uma devoção para fervorosos no seguimento de Jesus, mas um dado visceral, intrínseco para qualquer cristão.
Glória a Deus-Comunidade de Amor, que nos criou, para partilhar Vida, Felicidade… e nos integrou nesta Comunidade por Amor.
Nela somos criaturas, mas também filhos, porque no Filho nos adotou, nos salvou, nos plenificou por Seu Amor.
Glória ao Amor, que se tornou Comunhão em nós, e é Energia Transformadora, Santificadora por Amor.
Glória ao Pai Criador, Glória ao Filho Redentor, Glória ao Espírito Santificador, Glória à Trindade, Comunidade de Amor…
Frei Filomeno dos Santos O Carm.