*Roberto Barbieri
Em minhas reminiscências, relembro a época das radionovelas, nas décadas de 50 e 60, ocasião em que não dominava a televisão.
Predominava a Rádio Nacional, a “Globo da época” com radionovelas famosas como O Direito de Nascer e Jerônimo, o Herói do Sertão.
Radionovelas, para quem não conhece, eram folhetins narrados pelos próprios atores, e o ouvinte ao lado do rádio formava uma imagem do que estaria acontecendo pela narrativa de acordo com sua imaginação. Tal como um romance, só que em vez de ler, ouvia.
Nos horários das radionovelas o país parava, com novelas antes e depois da Hora do Brasil, as famílias ouvindo, as crianças não podiam dar um pio. Todos ao lado do rádio, ondas curtas e média. Não existia FM.
Jerônimo era um herói cowboy, de revólver na cintura e cavalo, que defendia os mais fracos e oprimidos. Como todo herói que se preza tinha seus inimigos que tentavam acabar com ele, os bandidos que queriam matar o mocinho.
Num capítulo, os malvados pegaram o Jerônimo e o jogaram numa caverna infestada de enormes e ferozes jacarés, da qual ele não conseguiria sair. Logo os jacarés o cercaram e o nosso herói procurou se defender atirando em direção aos animais. Tudo isto com o herói narrando, com a sonoplastia dos tiros, gritos do herói e rugidos dos jacarés.
Aos primeiros tiros os jacarés se assustavam e se afastavam, mais logo voltavam. Novos tiros, nova trégua e os bichos voltando. O herói narrando: “Estes jacarés se assustam mas logo esquecem e minhas balas estão acabando”. Sentenciou: “Estes animais tem memória curta”.
Quando acabaram as balas, depois de momentos terríveis, é lógico que o Jerônimo foi salvo por um amigo que lhe jogou uma corda. Mocinhos não morrem.
Bem, os eleitores brasileiros me fizeram lembrar desta história de infância ao se mostrarem iguais aos jacarés do Jerônimo: Se esquecem do fatos, possuem memória curta.
Conseguem se esquecer de falcatruas, pilantragens, roubos, desvios de recursos, sofrimentos causados à população. São enganados claramente e tais como torcedores de futebol com seu clube, acabam dando o seu perdão a crimes hediondos ao primeiro afago.
É o que está acontecendo. Um bandido, como Fênix ressurge das cinzas e cai nos braços de suas próprias e ferradas vítimas que o idolatram, tal como um artista preferido, se negando a analisar fatos e pouco se importando, no momento com o que vai acontecer com o país e com eles mesmos, após o retorno do bandido e sua quadrilha.
São como um bando de insensatos, de memória curta como os jacarés, que se recusa a analisar e ver que política, ao contrário do futebol, das religiões, das artes, tem que ser tratada com racionalidade e sem emoções arraigadas como um sistema de torcidas incondicionais, mas sim com responsabilidade com todos, familiares, amigos e a sociedade onde vive e vai precisar continuar vivendo.
*Roberto Barbieri É Administrador de Empresas – Passos – MG