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CRÔNICA

O Rui e nós

Renato Benvindo Frata

 

Estivesse vivo, Rui Barbosa hoje, com certeza, escreveria: De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem… enquanto homem, preferiria se animalizar sem perder a sua essência humana, pois o animal, por ser irracional, consegue se defender na mesmíssima proporção do ataque recebido e nunca emitirá esbravejar ou cometerá um ato além do necessário em sua defesa ou dos seus; ele também consegue bem se alimentar e bem beber sem jamais necessitar se empanturrar com pantoprazóis e outras drogas por ter comido ou bebido além das necessidades biológicas; respeita solenemente as horas do dia com repouso e trabalho e talvez, a mais importante das suas virtudes, nunca produz lixo de qualquer espécie: seus excrementos viram comida a outros e depois alimento ao solo, assim como sua carcaça que depois de devorada acaba em pó. Simples assim. Enquanto o homem se empanturra de plástico, borracha e papelão e sacia a sede com água de reuso, sem se dar conta que se alimenta dos próprios dejetos.

Fizesse isso, e ainda tendo Rui como expressão, o homem nunca chegaria a “desanimar-se da virtude” enquanto qualidade do que se considera correto e desejável em relação à moral, à religião e ao comportamento social, nem “riria da honra” enquanto consideração a uma pessoa que se distingue por seus dotes intelectuais, artísticos, morais e nem “teria vergonha de ser honesto”, afinal, honestidade como característica do que é decente, do que tem pureza e é moralmente irrepreensível, hoje raramente é vista no mundo dos homens. E, quando o é, chega ele a se agasalhar de timidez para não se ver enxovalhado, porque o bonito do momento “é se dar bem”.

Mas o Rui, infelizmente, não está mais aqui para nos dar continuamente essas lições de vida; e suas palavras, embora gravadas e por demais conhecidas, se não foram esquecidas passam ao largo da consciência dos chamados homens-irresolutos apegados a modismos que acabam por elevar o conceito da desonra, arvorarem-se pelo triunfo bruto das nulidades e se calarem solenemente diante do crescimento descomunal da injustiça. E o fazem, de forma geral, pela divisão entre nós-eles de grupelhos insensatos, cujos diretos sociais em muito se sobrepõem aos deveres sociais e de cidadania.

Estaríamos num Mundo-cão? Acho que não.

Melhor dizer que nos chafurdamos no mundo-homem imediatista levado à ganância, à insensatez, à cegueira social que visam o poder pelo poder e que se dane o resto.

Esse mesmo homem de que Rui, lá em 1914 – portanto há mais de 100 anos – tratou ao descrever no Senado Federal, com respeito às mudanças comportamentais que substituem hábitos saudáveis pelos que nos afrontam hoje, e que teimamos em não enxergar.

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