Aleksa Marques / Da Redação
Cuidar de um canteiro em casa exige tempo e dedicação. Imagine então ser responsável por sete mil metros quadrados de terra. Uma tarefa árdua que demanda disposição, carinho e atenção todos os dias do ano.
Couve, brócolis, beterraba, cenoura, pimenta, salsinha, cebolinha, ovo caipira, tomatinho e alfaces de vários tipos são algumas das hortaliças cultivadas por
“seo” Neude de Jesus Oliveira, produtor e dono da chácara Canaã há cinco anos.
Nascido e crescido em sítio, ele trabalha também com jardinagem e a vontade de montar uma horta surgiu para relembrar os tempos na roça. “Trabalhei mais de 15 anos em empresas. Quando vim para Paranavaí achei essa “chacrinha” e fiz a horta”, conta Neude que é nascido em Ortigueira. Ele conta que desde o dia em que abriu os portões, já fez inúmeros clientes que podem comprar as verduras de segunda a segunda, das 7h às 18h.
“O pessoal vem aqui para conversar, encontrar velhos amigos, trazer as crianças para brincar. Dá gosto de ver os pequenos com os pezinhos sujos de barro e arrancando as cenouras com rama e tudo”, disse Cecília Colussi, produtora e esposa de Neude.
Ela fala ainda que conseguiram criar as três filhas, mas nenhuma delas quis seguir a tradição. “Eu gosto muito daqui. As pessoas tratam a gente bem, a cidade inteira conhece nosso trabalho e vem de várias regiões comprar nossos produtos”, compartilhou Cecília.
E qual será o segredo para um pé de alface tão enorme? Quem conta é Alceu de Freitas, produtor e braço direito da família. Ele começou a mexer com a terra quando criança, mas não de maneira profissional como agora. Ele trabalha na horta do Jardim Monte Cristo há pouco mais de um ano e revela sua fórmula secreta.
“O adubo é colocar esterco de galinha na terra por oito dias. Depois coloco a muda e deixo mais oito dias. Depois replanto e coloco o adubo 25-20 e tudo cresce bem”, disse “seo” Alceu que chega todos os dias antes das 7h da manhã para começar os trabalhos com a terra.
Quando há previsão de tempo mais severo e frio, Neude conta que utilizam uma técnica comum que é a da irrigação constante. Às 4h da manhã já está de pé para molhar as plantas, que precisam de água até os raios de sol chegarem para esquentar e derreter as possíveis formações de gelo. Caso contrário, tudo congelaria e o prejuízo seria enorme.
Dia sim, dia também – Se um dia quiser cuidar de uma horta, tenha em mente que ela precisa de cuidados diários. “Não existe Natal, Ano-Novo e feriado. As plantinhas são seres vivos e precisam de atenção todo dia de manhã, à tarde e à noite. Até conversar com elas eu converso, assim elas crescem ainda mais bonitas”, indicou Alceu.
Mas para eles, essa rotina está tudo bem. O contato diário com dezenas de pássaros, com a terra e a natureza já vale todo o esforço. Até quando tiverem disposição os três irão tomar conta da horta que alimenta centenas de famílias todos os dias. Ter história para contar e uma alface para comer é o objetivo.
Mas como diz o ditado, em casa de ferreiro o espeto geralmente é de pau. “Às vezes eu nem lembro de colher uma rúcula para fazer uma salada. Quando acabo meu almoço me dou conta que tenho tudo isso aqui disponível para mim, mas aí já foi”, brincou Neude.
A propriedade não tem muros fechados, somente grades de proteção o que faz pensar que facilitaria a entrada de possíveis ladrões. Mas “seo” Neude não dá sorte para o azar. “Uma única vez um moço tentou roubar minhas mandiocas e eu saí correndo atrás dele e peguei tudo de volta. Depois disso, nunca mais aconteceu nada do tipo. Fico sempre esperto por aqui”, falou.
E qual o maior desafio? “Seo” Neude diz que é não ter preguiça. “Todos os dias levanto cinco da manhã, faço minha oração no meio da horta, alimento o gatinho e só depois faço meu café. Mas plantar e saber que o cliente vai poder se alimentar com o que a gente faz, é o mais gostoso. Fazemos com amor mesmo, porque se for fazer as coisas mal feitas, é melhor nem fazer”, finalizou rindo.
E o nome da horta, Neude? Ele respondeu rindo que ainda não conseguiu colocar. “Não tive tempo ainda. Mas se fosse para escolher um seria “Horta Monte Cristo”, que é como as pessoas chamam”, encerrou.