*Renato Benvindo Frata
Não é possível dizer que se perdeu ou se ganhou quando se fala de tempo histórico. Com ele ninguém perde ou ganha, pois não é coisa nem mercadoria que dá lucro ou prejuízo; apenas o tempo cronológico é que permite sentir o ganho ou a perda.
Tempo é simplesmente um momento, um instante – que pode ser de tristeza ou alegria, de concentração ou comiseração, de regozijo ou de desagrado, de choro ou de riso aberto e largado no gargalhar espalhafatoso; e, momento ou instante, nesse sentido, não se medem com fita métrica ou outro aparelho de medir, não se pesam com balança nem se contam com relógio ou cronômetro.
A tristeza ou a alegria – uma ou outra e não uma e outra – é que poderá ser mais ou menos rápida, ou mais ou menos lenta, ou mais ou menos longa, ou mais ou menos curta, ou mais ou menos grande, ou mais ou menos pequena, ou mais ou menos significativa, ou mais ou menos insignificante; ou mais ou menos colorida, ou mais ou menos bicolor – ficando sempre na dependência da ótica do freguês, assim como aquele que olha o copo de cerveja pela metade e se indaga: estará meio cheio ou estará meio vazio?
O tempo é um ponto de interrogação sem fim, como a reticência que termina a frase e ao mesmo tempo sugere continuação do tema e do pensamento.
Enquanto momento e instante que não podem ser medidos, pesados e contados sendo uma transformação contínua, o tempo serve – num sentido figurado, para dar à semente o broto; ao broto o tronco; ao tronco o galho; ao galho a folha; à folha a flor e à flor a semente – não exatamente nessa sequência lógica, mas num círculo vicioso que preserva a vida, em que a morte de um provoca o nascimento e a vida do outro num troca-troca de experiências, num vai-e-volta interminável como se fosse uma grande rosca-sem-fim, onde o começo pode ser o meio e o meio pode representar um recomeço, porque a vida e o tempo nunca acabam. Ufa! Como é complicado falar do tempo… e da vida…
O que é momento e o que é instante? Um é o espaço indeterminado de tempo e o outro, aquele espaço ainda mais reduzido que o primeiro, um lapso. Um e outro, no entanto, concebem grandiosos valores, como o do amor, paixão, bem-querência, amizade, sinceridade, fraternidade, solidariedade; ou de raiva, de ódio, de rancor, de violência, de fúria; ou de languidez, de frouxidão; ou de aspereza, de astúcia, de reflexo… Todos, no entanto, com o condão de marcar o momento, o instante, o lapso… Seja com dor ou com afeto a marca ficará indelével registrada para o sempre, como se ferrada à alta temperatura amoldando a alma e o corpo, passando deles fazer parte.
Tempo com a noção de presente, passado e futuro não pode ser entendido apenas como o período de maior ou de menor duração compreendido entre o passado e o futuro, ou compreendido antes do presente e do futuro e nem compreendido após o passado e o presente.
Tempo é tempo, como é a leitura de uma crônica, que para uns terá sido uma grande perda e para outros, ganho… em conformidade com a ótica, como conceito de se ver a vida.
“Do livro Quarto de Solteiro e Outras Crônicas, do autor”