Por André Ricardo Franco
Na penumbra do consultório, o terapeuta ocupacional, Dr. Thomas, recebeu seu paciente, Eric, um homem inteligente e talentoso, mas que lutava contra um déficit de atenção criado pelas tecnologias e pelos gatilhos mentais comumente utilizados. Eric, com seu olhar disperso, sabia que era hora de enfrentar as razões que o atrapalhavam em fazer coisas que resultam em uma vida melhor. Ele gostaria de não só fazer as coisas certas, mas também evitar de fazer as erradas.
O terapeuta começou: “Eric, você já ouviu falar da maldição de Tântalo? É uma história da mitologia grega sobre um homem condenado a sofrer a sede eterna e nunca saciá-la, devido a sua incapacidade de se concentrar no que era importante”.
Eric, intrigado, não conseguiu perceber qual a implicação que o exemplo traria para sua situação e perguntou como isso estava relacionado a ele, achando um tanto exagerado.
O terapeuta continuou: “Você vive sob uma maldição semelhante, não de sede, mas de distração. O mundo moderno nos oferece uma infinidade de distrações tentadoras, como os dispositivos eletrônicos, as redes sociais e notificações constantes, coisas sem valor que sugam o nosso tempo sem dó. Você se encontra sedento por foco e produtividade, mas frequentemente sucumbe a essas distrações, como todos também o fazem”.
Eric suspirou, reconhecendo a verdade nas palavras do terapeuta.
O Dr. Thomas então falou sobre o “Pacto de Ulisses”, uma estratégia em que Ulisses ordenou a seus marinheiros que o amarrassem ao mastro de seu navio para resistir ao canto das sereias irresistíveis. “Eric, você precisa criar seu próprio ‘Pacto de Ulisses’. Identifique as situações em que você é mais suscetível à distração e tome medidas para eliminá-las ou minimizá-las previamente.”
O terapeuta mencionou, também, o “Pacto do Preço”, que envolve a conscientização das consequências de nossas ações. “Crie um pacto com aporte de valores, mesmo que em família, de forma a justificar a não realização de determinada conduta (distração). Deste modo, se fizer algo, paga ou deposita um valor em favor de alguém. Isto normalmente é utilizado em campanhas para perda de peso, mas utilize em seu favor com outras distrações.”
Dr. Thomas ainda abordou o “phubbing”, termo criado recentemente, que consiste no ato de ignorar as pessoas em favor do smartphone ou similares. “Eric, o phubbing pode ser tóxico para relacionamentos interpessoais. Lembre-se de que as conexões humanas são valiosas e merecem a total atenção.”
Eric aceitou as orientações e, concordando com os conselhos, fez uma nota mental para melhorar suas interações sociais.
Por último e concluindo a sessão, o terapeuta aconselhou: “Eric, aproveite seu tempo e evite distrações improdutivas. Ao adotar o ‘Pacto de Ulisses’, lembrar-se de valer-se do ‘Pacto do Preço’. Estas providências podem valorizar suas relações pessoais, você pode vencer a maldição da distração. Crie bons hábitos e, em vez de ser dominado por sua atenção dividida, você será o mestre dela”.
E assim, Eric partiu do consultório com um novo propósito, determinado a desafiar a maldição de Tântalo e a abraçar a bênção da atenção plena. Que todos nós possamos aprender com seu exemplo, valorizando nossas interações e usando nossa atenção de forma sábia, para que cada momento seja verdadeiramente significativo.
André Ricardo Franco, professor adjunto da Unipar, desde 1998 (século passado). Advogado e sócio proprietário da Franco Advocacia, em Paranavaí. Mestre em Direito, filho, marido, pai, ciclista e corredor de rua. Amante da leitura e de bons hábitos.