Adriana Menezes*
A grande dificuldade de escrever sobre o desenvolvimento da liderança feminina é fugir dos clichês sem perder a sensibilidade e o respeito por todas as mulheres que buscam um lugar no mercado de trabalho. Assim, pensei: nada melhor do que contar um pouco da minha própria história.
Tudo começou com um processo seletivo para atuar em uma financeira, na mesa de operações. Éramos 50 candidatos e apenas 5 vagas. A seleção seria feita através de provas de matemática e acabei me classificando entre os cinco primeiros. Na sequência, fui chamada para uma entrevista e fiquei bastante animada. Ao longo da conversa, o diretor da companhia disse que fez questão de me conhecer, pois eu havia ido muito bem nas avaliações e ele gostaria de me parabenizar por isso.
Mas, uma notícia me pegou completamente de surpresa. A empresa decidiu não me contratar, pois, na avaliação dos recrutadores, o ritmo de trabalho era intenso e optar por uma mulher possivelmente traria problemas futuros com relação a filhos, por exemplo. Eu não soube o que dizer, apenas pensava: como assim? Eu tenho 18 anos, não penso em ter filhos agora.
Hoje, olhando para toda a minha trajetória profissional, acho que foi melhor ter passado por essa experiência logo no início. Isso me fez avaliar que empresas que possuem esse tipo de conduta não merecem ter mulheres fazendo parte de suas equipes. Embora chateada, não desanimei, pelo contrário, percebi que teria que estudar muito para ter uma carreira de sucesso.
Posso dizer que passei por muitas oportunidades, aproveitei todas elas, algumas vezes tendo que abrir mão de estabilidade ou remuneração, até mesmo de prestígio, por acreditar que sair da zona de conforto e arriscar seguir por um novo caminho valeria a pena. Acredito que o desenvolvimento da profissão vem junto com o amadurecimento e com a evolução da vida pessoal. Como equilibrar tudo? Não existe tutorial. Mas, de uma coisa tenho certeza, precisamos contar com pessoas que nos incentivam e não nos deixam esquecer que nem sempre acertamos. Lembram de sermos humildes nos momentos de sucesso e serenos em outros mais difíceis.
No início da minha jornada, foi fundamental o suporte da família e, mais tarde, o incentivo do meu marido. Também tive dois gestores que marcaram minha evolução profissional e acreditaram em mim, me desafiaram e me fizeram decolar. Vejo que bons mentores são muito importantes nesse processo.
Durante grande parte da minha carreira, passei por empresas de consultoria em Tecnologia da Informação, o que significou viajar com frequência, navegar em diversos segmentos de negócio, discutir assuntos variados como gestão, administração, inovação, entre outros. Isso também trouxe o desafio de gerir equipes multidisciplinares, muitas vezes em diferentes lugares.
Falando nisso, equipes são fundamentais visto que não produzimos nada sozinhos, precisamos de complemento, escutar ideias, repensar, quebrar paradigmas, encorajar e estimular. Esse pensamento construiu o alicerce da minha formação como líder, o que me permitiu evoluir e ter a possibilidade de integrar times de sucesso.
Nós, mulheres, temos um dinamismo e uma agilidade de lidar com diversos assuntos, ao mesmo tempo adicionando certa dose de objetividade e olhar mais humano. Isso nos permite propor uma liderança diferenciada, muitas vezes dura, porém também calorosa. Coisa de mãe, sabe?
Cada vez mais as empresas consideram a diversidade como fator-chave para desenvolvimento, inovação e sucesso de estratégias de negócio. As oportunidades estão disponíveis, nós estamos preparadas, vamos aproveitá-las.
Por fim, digo: tenha um propósito, goste do que faz, saiba aonde quer chegar e mantenha sempre o brilho nos olhos, pois isso contagia a todos em volta. Inspire e se deixe inspirar.
*Adriana Menezes é superintendente de TI da Generali Brasil