MARCOS GUEDES
DA FOLHAPRESS
Quando compôs “História pro Sinhozinho”, em 1947, Dorival Caymmi não imaginava que parte da melodia seria tão irritante para torcedores do Palmeiras 75 anos depois. O que era um trecho sem letra da canção hoje é frequentemente preenchido com os seguintes versos: “O Palmeiras não tem Mundial, o Palmeiras não tem Mundial, não tem Copinha, não tem Mundial”.
Agora, o clube alviverde se vê a três jogos de enterrar a afronta. Está na final da Copa São Paulo de juniores, a tradicional Copinha, que jamais venceu. E novamente disputa o Mundial de Clubes, ingressando na disputa nas semifinais. A decisão está marcada para 12 de fevereiro, quando os palestrinos esperam poder voltar a ouvir Caymmi em paz.
Antes de buscar o título profissional nos Emirados Árabes Unidos, o time tenta nesta terça-feira (25) erguer pela primeira vez o troféu do torneio de base. O adversário na decisão é o Santos, e o clássico decisivo está marcado para as 10h, no Allianz Parque, com transmissão de Globo, Rede Vida e SporTV.
Só haverá torcida do Palmeiras no estádio da zona oeste paulistana. Desde 2016, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo só permite apoiadores de uma equipe nos clássicos do estado. Na Copinha, o regulamento previa que o dono da melhor campanha teria o apoio galera em caso de encontro de grandes.
Mesmo assim, o presidente do Santos, Andres Rueda, demonstrou irritação com a FPF (Federação Paulista de Futebol). Ele discordou da marcação da partida para a casa do Palmeiras e apontou que o campo deveria ser neutro. A final do torneio ocorre tradicionalmente no Pacaembu, que foi concedido à iniciativa privada e está em obras.
A agremiação praiana publicou uma nota repudiando a decisão da organização do torneio, dizendo que ela “privilegia o outro finalista e não atente ao princípio de isonomia”. A federação respondeu que, “considerando a melhor campanha entre os finalistas e a regulamentação de torcida única, o Palmeiras naturalmente teria sua torcida”.
Por isso, explicou a entidade, foi escolhido o Allianz Parque. É no gramado sintético da arena, ao qual estão mais habituados os jogadores alviverdes, que os comandados de Paulo Victor Gomes esperam levantar a taça. Contam com o ainda muito jovem Endrick, de 15 anos, grande aposta do clube.
O Palmeiras não perdeu até aqui na competição. Ganhou sete vezes e empatou apenas uma, quando, já classificado para o mata-mata, adotou uma formação reserva contra o Água Santa. Marcou 25 gols, sofreu cinco e chega na condição favoritismo ao encontro com o Santos.
“Eu não gosto de falar de pressão. Isso é um privilégio de quem trabalha em alto nível”, afirmou Sousa, que pediu calma a seus atletas na busca do objetivo inédito. “Vamos continuar fazendo da mesma forma, com naturalidade, com tranquilidade, respeitando o adversário para, com merecimento, conquistar o título.
Não foi com tranquilidade que se encerrou a partida anterior. A vitória por 1 a 0 sobre o São Paulo ficou marcada pela invasão de campo de torcedores tricolores, que bateram boca com atletas palmeirenses. Ao fim da confusão, uma faca foi encontrada no campo -segundo a Polícia, arremessada da arquibancada.
Na ocasião, como chegara ao duelo com melhor campanha, o São Paulo tinha todos os torcedores na Arena Barueri, em Barueri. O Palmeiras levou a melhor mesmo assim, e agora os jogadores usam esse triunfo para demonstrar cautela. Se eles puderam vencer sem torcida, o Santos também pode.
Com seis vitórias e dois empates, o time praiano avançou à final fazendo 3 a 0 no América-MG, em São Caetano do Sul, mas o resultado teve um custo alto. Autor de dois gols no confronto, o artilheiro Lucas Barbosa recebeu o terceiro cartão amarelo e terá de cumprir suspensão automática no embate derradeiro.
“Vamos fortes para esta final. Tenho certeza de que será um grande jogo, independentemente do estádio e da torcida”, afirmou o zagueiro Derick. “Jogar no campo do Palmeiras, para nós, não muda. A decisão, pelo regulamento, teria que ser em campo neutro. Mas quem quer ser campeão vai enfrentar o adversário no campo dele”, acrescentou o técnico Elder Campos.
Campeão da Copinha em 1984, 2013 e 2014, o Santos busca seu quarto título na Copinha. Já o Palmeiras, derrotado na final de 1970 pelo Corinthians e superado pelo Santo André na briga pelo troféu de 2003, espera quebrar a escrita. E começar a acabar com a musiquinha que tanto incomoda seus torcedores.