Em hospitais de todo o estado, mais de 8 mil motociclistas foram atendidos em 2024
“Acidente de moto faz duas vítimas”, “Motociclista bate em carro e é atropelado”, “Motociclista morre em acidente”. Manchetes como essas são lamentavelmente comuns em todas as regiões do país, com o número de acidentes envolvendo motocicletas em ascensão. Em 2024, o Paraná registrou mais de 8 mil casos, o que custou ao SUS um total de R$ 13,4 milhões, segundo a Secretaria Estadual de Saúde (Sesa). Só o Hospital Universitário Cajuru, que atende 100% via SUS e é referência em atendimentos de trauma em Curitiba e região, recebeu 44% dessas ocorrências, o que totaliza 3,5 mil motociclistas acidentados.
O alto número de acidentes com motocicletas reflete, em grande medida, o aumento de vendas desse tipo de veículo. No primeiro trimestre de 2025, foram registrados quase 474 mil emplacamentos de motocicletas em todo o país, de acordo com a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave). O aumento é de 9,63%, em comparação com o mesmo período de 2024, que teve pouco mais de 432 mil emplacamentos.
Além disso, o número em 2024 foi o mais alto desde o início da contagem, há 60 anos. Entre os fatores para esse crescimento de demanda, estão o aumento de serviços de delivery, a facilidade de financiamento e menor custo de aquisição frente a um automóvel, a precarização do transporte público e a redução do tempo de deslocamento no trânsito. “Mais motos nas ruas infelizmente significam mais acidentes de moto, o que acaba pressionando o Sistema Único de Saúde (SUS), muitas vezes responsável pelos atendimentos de vítimas de trânsito”, afirma o coordenador médico do pronto-socorro do Hospital Universitário Cajuru, Victor Pessini.
De acordo com o especialista, a maior parte das internações advindas de acidentes de trânsito no Hospital Universitário Cajuru infelizmente envolvem motociclistas. “Essa é uma tendência geral nos hospitais que atendem casos assim, porque as motocicletas não oferecem a seus condutores o mesmo nível de proteção de um automóvel”, destaca.
Custos – Os dados confirmam a impressão de quem está na linha de frente dos atendimentos médicos a motociclistas acidentados. Os gastos do SUS com esse tipo de internação vêm aumentando nos últimos anos, com destaque para 2023 e 2024, quando houve crescimento recorde. Em 2024, o SUS gastou R$ 257 milhões apenas com atendimento a motociclistas.
Perdas humanas – Mortes, amputações e cirurgias são algumas das consequências mais graves desses acidentes. Mesmo os acidentes que ocorrem com a motocicleta em velocidades moderadas podem resultar em traumas graves. “Fraturas expostas, lesões na cabeça e membros e até amputações são consequências frequentes. Muitos pacientes não sobrevivem e outra parte fica com sequelas permanentes. É um impacto profundo não só na saúde do paciente, mas também em sua qualidade de vida, na rotina da família e nos custos para o sistema de saúde”, afirma Pessini.
Consciência no trânsito – Comportamentos de risco, como transitar entre os carros ou em alta velocidade, são outro fator que explica o crescimento no número de motociclistas acidentados. Para que haja uma redução significativa nesses números é preciso investir em conscientização, na opinião de Pessini. “É muito importante que quem usa a motocicleta como meio de locomoção compreenda os riscos de sofrer um acidente. Além das vítimas fatais, temos muitos casos em que o paciente precisa passar por múltiplas cirurgias, longos períodos de internação, reabilitação e afastamento prolongado do trabalho devido aos danos causados pelo acidente que sofreram”, alerta.
Campanhas como o Maio Amarelo, criado pelo Observatório Nacional de Segurança Viária (ONVS), são ferramentas fundamentais para aumentar a conscientização dos motoristas sobre a importância da responsabilidade no trânsito. O mês foi escolhido porque, em 11 de maio de 2011, a Organização das Nações Unidas (ONU) decretou a Década de Ação para Segurança no Trânsito. Maio, então, tornou-se o mês em que organizações de todo o mundo concentram forças em ações como essa.
Em todo o Brasil, o uso do capacete é obrigatório para condutores e passageiros de motocicletas. Esse equipamento de proteção ajuda a reduzir danos graves e ocorrências fatais, mas não é a única forma de proteger os motociclistas. “Uma maior conscientização sobre a importância de respeitar a sinalização existente, evitar andar acima do limite permitido de velocidade e ter noções de direção defensiva também é fundamental para garantir uma queda no volume desses acidentes e em suas consequências”, finaliza Pessini.