Espetáculo “Vou Parir um Terremoto” reúne música e teatro para discutir temas como aborto, violência e expectativas sociais sobre o corpo feminino. Apresentações são gratuitas entre os dias 18 e 24 de abril
Cibele Chacon
Da Redação
A atriz e cantora Uyara Torrente estreia em Curitiba o show-cênico “Vou Parir um Terremoto”, uma montagem sensível e provocadora que entrelaça música inédita e teatro para refletir sobre a não-maternidade e as imposições sociais feitas ao corpo feminino. O trabalho, com direção de Nadja Naira e canções compostas em parceria com o músico Vinicius Nisi, será apresentado gratuitamente entre os dias 18 e 24 de abril, no Portão Cultural e no Teatro Guairinha.
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Idealizadora do espetáculo, Uyara se une a artistas da música e do teatro para construir uma performance híbrida, que desafia rótulos e encontra no formato de “show-cênico” o espaço ideal para abordar temas como aborto, violência, medo e liberdade de escolha. A obra nasce da inquietação pessoal da artista e da dramaturga Lígia Souza, ambas naturais de Paranavaí, sobre a pressão social que envolve a maternidade feminina.
A força da criação está no corpo e na voz de uma mulher que decide refletir e expor, no palco, suas inquietações mais íntimas sobre o que significa (ou não) ser mãe. A expressão que dá nome ao espetáculo surgiu da música Grávida, escrita por Arnold Tunes e popularizada por Marina Lima. Nela, a frase “vou parir um terremoto” acendeu em Uyara a potência de uma metáfora que ecoa em muitas mulheres.

Foto: Divulgação
“Esse terremoto vem como uma imagem de violência. A violência de não termos o direito de decidir sobre nossos próprios corpos. De sermos empurradas para a maternidade como uma obrigação. Durante a peça, essa personagem vai expondo terremotos internos que têm a ver com raivas, com o patriarcado, com ser mulher”, explica Uyara.
O trabalho, que transita entre o íntimo e o coletivo, mistura canto e cena de forma fluida, recusando-se a se enquadrar no gênero de musical tradicional. “Foi muito desafiador unir teatro e música sem cair em uma fórmula. Não é musical. É show, é cena, é um corpo dizendo, cantando, vivendo. E, para mim, como artista, foi um privilégio experimentar isso”, conta a artista.
Um espetáculo sobre escolhas, tempo e culpa
Autodefinido como autoficção, o texto parte das vivências de Uyara e da coautora Lígia, duas mulheres de 38 anos que decidiram investigar com profundidade se o desejo de serem mães era genuíno ou fruto de uma pressão histórica e social. “A gente foi percebendo que o tempo estava batendo à porta. Tudo ao redor dizia que estávamos atrasadas, que já deveríamos ter decidido, porque daqui a pouco nosso corpo não vai mais permitir um filho biológico. É uma parede que se ergue na frente de muitas mulheres.”
Apesar dos temas densos, o espetáculo evita o tom dramático exagerado e aposta no humor e na leveza para conduzir a narrativa. “É inevitável que tenha muito de mim ali. A gente fala sobre ser filha, sobre nossas mães, sobre muitas coisas que são universais para mulheres. Mas tudo isso é dito com humanidade, com humor e sem panfletarismo”, afirma.
Uma nova Uyara, mas com parcerias de longa data
Famosa por sua atuação como vocalista da Banda Mais Bonita da Cidade, Uyara antecipa que os fãs podem esperar algo completamente novo. “É bem diferente da banda. Apesar de ter o Vinícius Nisi comigo, que é meu parceiro de mais de 15 anos e diretor musical da banda, aqui a gente se joga em outra linguagem. A música está a serviço da cena, da dramaturgia, da história.”
A artista também reconhece o impacto das experiências vividas em sua infância e adolescência em Paranavaí na construção desse trabalho. “Crescer no interior nos anos 90, num contexto conservador, deixou marcas. Muitas das situações que o espetáculo aborda têm raízes ali. Aquela história de que menina tem que sorrir, não pode sentar de perna aberta, não pode brincar com meninos. São violências sutis, mas que vão moldando a forma como ocupamos o mundo.”
Mas também reconhece que o município ajudou a construir o seu lado artístico. “Paranavaí reverbera muito na minha vida, no que eu me tornei. Eu comecei a fazer teatro e cantar muito pequenininha, porque é uma cidade que possibilita, com o Femup, os festivais de teatro, o Sesc, a Fundação Cultural, o Gralha Azul. Paranavaí te possibilita experimentar, experienciar e vivenciar a arte. Então, com certeza, tudo o que eu me tornei, o que eu faço hoje, vem de uma raiz paranavaiense”, diz a artista.
“Vou Parir um Terremoto” é, nas palavras da própria Uyara, um espetáculo sobre liberdade, escuta e coragem. “É sobre permitir que a gente possa escolher sem culpa e sem medo, o que queremos parir. Ou se queremos parir.”
SERVIÇO
Data: 18 e 19 de abril – sexta e sábado – às 20:00
Local: Auditório Antônio Carlos Kraide (Portão Cultural – República Argentina, 3.432)
Data: 24 de abril – quinta-feira – às 20:00
Local: Guairinha – Auditório Salvador Ferrante (Rua XV de Novembro, 971)
Entrada Franca: Retirada de ingressos a partir de 1 hora antes no local. Sujeito à lotação.