Hoje a coluna apresenta uma aventura eternizada na memória do multiartista paranavaiense Sérgio Torrente. Ele narra a sua experiência com um dos maiores nomes da cultura do Brasil: Patativa do Assaré (1909/2002).
História boa e bem contada por Sérgio Torrente.
“Foi em 1988, em Fortaleza, Ceará. Eu, com 23 anos, estava em turnê com o grupo Teatro da Juventude do Rio de Janeiro. Tínhamos apresentado no Theatro José de Alencar e fomos para o hotel. No meio das conversas sobre o dia alguém comentou que Patativa do Assaré estaria fazendo o lançando oficial do seu terceiro livro “Ispinho e Fulô” no mesmo teatro que estávamos. Me aprontei rapidamente e perguntei ao recepcionista do hotel como chegar ao Teatro. Ele prontamente me disse que a rua do hotel dava certinho na praça do teatro, e lá vou eu, feliz da vida, a pé e sem saber que eram oito quilômetros de distância.
Valeu cada passo, cada gota de suor derramada, pois a cortina do Theatro lotado se abre e lá estava ele, um gigante pequeno homem de óculos escuros e chapéu de palha, in natura, declamando seus versos todos decorados, por magnífica uma hora e meia.
Depois, na sessão de autógrafos, uma jovem mulher escrevia a dedicatória do livro e passava para Patativa que, lentamente, desenhava seu nome.
Na fila de espera ninguém reclamava da demora pois estávamos todos extasiados.
Pude estar rapidamente com Patativa e falei como ele era querido, admirado e declamado pelos artistas daqui, também falei do Femup e de como seria interessante se ele pudesse vir a Paranavaí conhecer o festival. E ele, para meu espanto, trucou:
Se me chamar eu vou.
E acenando para seu empresário afirmou o interesse e que me passasse o contato telefônico. Pequei o número e depois passei para a fundação cultural que fez o convite e quase trouxe Patativa.
Na agonia do registro chamei o fotografo que registrava o evento e contei minha história de artista paranaense apaixonado e de como seria importante ter uma foto com o poeta de Assaré. Ele fez a foto com muito gosto e disse que eu poderia pegar no outro dia, depois das dez horas da manhã, no jornal onde trabalhava. Então falei que sairíamos de viagem as seis horas e ele fez a gentileza de passar a foto na frente das outras e conseguiria aprontar às oito horas. Bingo… pelo valor da cultura popular e raridade da foto, Luiz Arthur, o diretor do nosso grupo, atrasou a viagem para eu conseguir pegar esta maravilha de fotografia com Patativa do Assaré.”
(Texto: Sérgio Torrente)