Neste 25 de setembro um dos cineastas espanhóis mais relevantes da história do cinema completa 73 anos. E não é qualquer completar de 73 anos, Pedro Almodóvar continua produzindo, e sendo uma das maiores referências cinematográficas vivas em âmbito mundial.
Nos anos 70 Pedro era um jovem filmmaker, que rodava seus primeiros curtas-metragens em super 8. E galgava espaço em festivais de cinema do formato 8mm. Porém, Almodóvar sempre foi da escrita. Seus primeiros filmes não tinham som devido o formato 8mm, por falta de texto, os curtas eram narrados ao vivo a cada exibição pelo próprio Pedro Almodóvar.
Pedro escreveu para as principais publicações alternativas da “Movida Madrileña” “La Luna” e “Madriz”. Para além das publicações nos fanzines da época, Pedro Almodóvar é considerado um dos, ou se não o maior expoente da “Movida Madrieña”. Movimento cultural e político após o regime fascista de 40 anos do General Francisco Franco.
Das páginas de “La Luna” surge a primeira personagem feminina emblemática de Pedro Almodóvar, Patty Diphusa ou a Vênus do Lavabo. Uma mulher moderna, tão frenética quanto seu tempo, tão superficial e fútil como os jovens de sua época. Após Patty vieram: Kika; Raimunda; Julieta entre tantas outras personagens.
Almodóvar nos anos 80 era conhecido na Espanha como o Andy Warhol espanhol. Certa vez Warhol em uma visita a Madri o questionou se eram parecidos. Almodóvar não se declara mitômano, mas Andy Warhol e todo o frisson da Factory de alguma forma parecem ter inspirado o universo do primeiro cinema de Pedro. Um universo cheio de excessos, escândalos e frivolidades. E para além disso, um lugar na busca da igualdade sexual, social e da democratização da arte.
Pedro Almodóvar vem de uma família humilde e foi para Madri jovem em busca de um sonho, que deu certo.
Em “A Lei do Desejo” filme de 1987 Pedro nos traz a metalinguagem da arte dentro da arte, recurso tão utilizado em sua obra de então em diante. Confesso que esse filme antes esquecido por mim, hoje é um dos meus preferidos.
Mulheres, mulheres transexuais, lésbicas e gays sempre tiveram protagonismo em sua obra. Mesmo em um tempo em que pautas de igualdade de gênero não tinham evidência. Pedro é pioneiro na militância, nos temas controversiais e na formação de uma estética kitsch única. Estética que influenciou, influencia e influenciará não só o mundo do cinema, mas sim todos os segmentos da arte.
Dos anos 80 aos anos 90 se estabelece o primeiro cinema de Pedro Almodóvar, repleto de quebra tabus e de sexualidade fluida. Sempre recortadas por humor e por crimes. Almodóvar é confesso admirador de Alfred Hitchcock, e que bom. Muita gente costuma avaliar o cinema de Pedro pelo escândalo. Mas eu costumo pensar que o escândalo é um papel de embrulho para a licença de matar que as personagens de Almodóvar exercem.
O cinema de Almodóvar amadurece junto a ele, temas mais delicados, situações familiares e recordares do passado fazem parte da safra do final dos anos 90 até os dias de hoje. Pedro Almodóvar utiliza muitas vezes os mesmos temas, volta de forma recorrente em situações já vividas em outros filmes seus, mas suas obras são sempre únicas e ímpares.
Eu poderia falar aqui de cada um dos 22 longas-metragens de Pedro Almodóvar, até posso fazer em outro momento. Mas deixo vocês com algumas indicações: “Labirinto de Paixões” (1982); “De Salto Alto” (1991); “Tudo Sobre Minha Mãe” (1999) e seu último filme “Mães Paralelas” (2021).
Em uma sociedade tão etarista, celebrar pessoas 60+ é necessidade básica. Nada como o tempo para construir um caminho tão único e brilhante, para além dos prêmios, como o de Pedro Almodóvar, que nos ensina que a juventude é sim eterna.
*Edson Godinho é artista visual, filmmaker, entusiasta, performer e professor (@7dsngdnh)