SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Ecossistemas maduros para inovação nos negócios –ambientes que agregam startups, parques tecnológicos, universidades, órgãos do governo e grandes empresas– se concentram no Sul, no Sudeste e, em menor medida, no Nordeste.
Assim, pequenos empresários de Norte e Centro-Oeste recorrem a regiões distantes de suas cidades para desenvolver suas empresas.
A ideia desses ecossistemas é que os agentes apoiem pequenos e médios empresários no crescimento de seus negócios. É o que acontece, por exemplo, no Vale do Silício, na Califórnia, e em Israel, polos de tecnologia.
A química Sandra Zanotto, 48, é uma das pequenas empresárias que não encontraram apoio adequado em Manaus para evoluir seu projeto. Em 2016, ela criou a Amazon Doors, empresa que conecta multinacionais a pequenas comunidades para desenvolver cadeias de produção na Amazônia Legal. “Atuamos em regiões sem estrada, comunicação e até energia elétrica”, diz.
A empresa já prestou serviços para Natura, Vale, Pierre Fabre e Ecolab. Sandra foi pesquisadora e professora da UEA (Universidade Estadual do Amazonas) e da UFAM (Universidade Federal do Amazonas) por 20 anos.
Até 2020, porém, ela não conseguiu aumentar os ganhos da Amazon Doors, por falta de orientação. Ela voltou então para Santa Catarina (onde nasceu) e buscou ajuda no ecossistema local. “Encontrei orientações claras e objetivas que proporcionaram a reestruturação do nosso modelo de negócio”, afirma.
Hoje, sob apoio da Fundação Certi, entidade sem fins lucrativos que opera mecanismos de inovação em Florianópolis, ela estuda, no sul do país, novas formas de monetizar o negócio voltado para o norte brasileiro. A mesma discrepância acontece, por exemplo, no Centro-Oeste, região marcada pelo agronegócio.
Segundo a plataforma Agro Hub Brasil, administrada pelo governo federal, a região Centro-Oeste tem nove agentes de inovação reconhecidos pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Em comparação, o estado de São Paulo tem 20.
Segundo pesquisa da Anprotec (Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores), só 3,7% dos parques tecnológicos do Brasil estão no Norte. O Centro-Oeste tem a mesma porcentagem. Os dados são de 2020.
O estudo também apontou falta de incubadoras e aceleradoras nas duas regiões, em comparação com as demais áreas do país. Em outra frente, ranking da Escola Nacional de Administração Pública aponta que a melhor cidade do Norte em inovação, Porto Velho, é apenas a 26ª do país. Do Centro-Oeste, excluindo Brasília, a melhor é Cuiabá, 51ª colocada no ranking.
O Sebrae, por sua vez, desenvolve ecossistemas em 113 municípios de 21 estados. Desses, 85% ainda iniciam a operacionalização e só o de Florianópolis é considerado maduro –o levantamento exclui São Paulo e Rio de Janeiro.
Para Danilo Piucci, diretor de ecossistemas da Abstartups (Associação Brasileira de Startups), as fases iniciais desses ambientes são as mais difíceis. “Não falta financiamento direto ao empreendedor. Falta financiar a estrutura de suporte, como incubadoras, aceleradoras e espaços para startups se relacionarem.”
Um dos exemplos do financiamento defendido por Piucci acontece em Manaus. Lá, a Certi desenvolveu, em 2019, a Jornada da Amazônia. A iniciativa pretende ampliar os laços entre os agentes de inovação de cidades amazônicas, considerando negócios bioeconômicos.
A meta da Certi é criar 400 empreendimentos e atrair 40 mil novos pesquisadores e empresários da região até 2026. “Detectamos quase 2.000 linhas de pesquisas sobre bioeconomia na Amazônia, mas isso não está gerando novos negócios. Faltam talentos que queiram empreender e refletir isso em renda e desenvolvimento”, aponta André Noronha, coordenador de comunicação da iniciativa.
O Nordeste, por sua vez, é a terceira região com melhores ecossistemas, segundo especialistas. O ambiente de Natal, por exemplo, foi finalista no prêmio da CNI (Confederação Nacional da Indústria) de melhores ecossistemas de inovação do Brasil em 2022 -todos os vencedores são do Sul.
Já Recife abriga o Porto Digital, um dos maiores ambientes brasileiros de inovação. Para Rosana Jamal, diretora de empresas da Anprotec, a cidade soube explorar a excelência em computação da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco). “É difícil criar um ecossistema sem focar a área ou a competência daquele local”, afirma.
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