*Dirceu Cardoso Gonçalves
A pesquisa de intenção de voto tem uma grande utilidade: revelar aos partidos e a seus possíveis candidatos o nível de aceitação de cada um na preferência popular. É uma das ferramentas para a decisão de lançar ou não candidatura própria ou se aliar a quem tenha melhores condições para a montagem de um projeto político. Essa consulta costuma ser custeada pelo interessado, que determina parâmetros, verifica os itens apurados e com eles orienta a tomada de posição. Só depois de o ambiente eleitoral definido, com candidaturas claramente colocadas, mesmo ainda sem o registro, é que passam a ter significado as consultas das possibilidades dos concorrentes e isso se transforma em notícia para o grande público. Pesquisar antes só tumultua o quadro e traz, até, insegurança econômica ao país. Os investidores, na possibilidade de instabilidade ou grandes mudanças, ficam reticentes e migram seus recursos daqui para outros países.
Ainda falta praticamente um ano para as eleições presidenciais e já vemos informações sobre a possível disputa entre o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A polarização existe. Quanto ao resultado das pesquisas, não temos credenciais para duvidar e nem razões para nele confiar. Principalmente porque os possíveis concorrentes ainda não se declararam candidatos – e se o fizerem correm o risco de ser atropelados pela legislação eleitoral, pois isso pode ser considerado campanha antecipada, o que é proibido. Ninguém, nesse momento, é capaz de prever com certa segurança em que condições Bolsonaro, Lula e os demais pretendentes à presidência da República chegarão à época da campanha. Adversários fazem todo o possível para obter judicial ou politicamente a inelegibilidade de Bolsonaro e Lula, embora liberto pelo Supremo Tribunal Federal, não teve anulados os seus processos, que voltarão a ser julgados. Os governadores de São Paulo e Rio Grande do Sul lutam pela candidatura tucana. E ainda há a possibilidade de uma terceira via formada por uma coalizão de partidos posicionados ao centro.
A indefinição do cenário leva, por lógica, à desconfiança sobre os números que se tem divulgado, como aqueles que para o segundo turno apontam Lula com 56% e Bolsonaro com 31%. Se é difícil aferir o quadro do primeiro turno, muito mais será para o segundo, que ainda depende de acontecimentos futuros. Longe de desqualificar o trabalho dos órgãos de pesquisa, é preciso considerar que nesse momento ainda não há o ambiente concreto a pesquisar. Independente da opção por um ou outro polarizado, é difícil admitir os números acima considerando-se a grande mobilização de massa que o presidente consegue realizar e o público diminuto que os eventos do Partido dos Trabalhadores e seus aliados reúnem, a ponto de nem o seu virtual candidato comparecer.
A divulgação das pesquisas nas condições em que hoje são produzidas e interpretadas poderá ser entendida como propaganda eleitoral antecipada e criar embaraços. Isso em nada contribui para a boa escolha dos futuros ocupantes dos cargos públicos em disputa e ainda tumultua o ambiente, levando incertezas à cabeça do eleitor. O bom seria que as pesquisas eleitorais fossem divulgadas somente no ano em que forem realizadas as eleições ou, até, a partir do momento em que já estiverem oficializadas as candidaturas. O processo das eleições tem de se desenvolver de forma simplificadora, pacífica e ordeira, sem que o cidadão seja importunado com informes que possam confundi-lo ou baixar a qualidade do seu voto. A eleição do próximo ano será de altíssima responsabilidade. Além de presidente da República, nela escolheremos governadores, senadores e deputados federais e estaduais. Que sejam eleitos os melhores…
*Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)
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