EDUARDO CUCOLO, LEONARDO VIECELI E LUCAS BOMBANA
DA FOLHAPRESS
O crescimento da economia brasileira acima do esperado no segundo trimestre provocou uma onda de revisões nas estimativas para o PIB (Produto Interno Bruto) deste ano. As projeções agora indicam uma alta próxima a 3% no acumulado de 2022.
A expectativa, porém, é de uma desaceleração nos seis últimos meses do ano, mesmo com os estímulos adotados pelo governo federal para o período eleitoral. Há divergências entre os analistas em relação ao tamanho da perda de fôlego.
O PIB brasileiro cresceu 1,2% no segundo trimestre, na comparação com os três meses imediatamente anteriores, segundo dados divulgados nesta quinta-feira (1º) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Os resultados dos seis primeiros meses já garantem um crescimento de 2,6% para o ano, caso a economia fique estável no segundo semestre -a chamada herança estatística.
O Bank of America elevou a projeção para o PIB deste ano de 2,5% para 3,25%. Para 2023, manteve o crescimento de 0,9%.
Conforme a instituição, as medidas para baratear os combustíveis e o aumento do Auxílio Brasil devem ter grande influência positiva nos resultados deste semestre, enquanto a desaceleração global e os efeitos defasados do aumento dos juros no Brasil ajudam a frear a atividade.
Alberto Ramos, do Goldman Sachs, revisou a projeção de crescimento real do PIB em 2022 de 2,2% para 2,9%. Ele afirma que os cortes recentes nos impostos e o pacote de benefícios acima teto de gastos devem adicionar aproximadamente 0,7% do PIB em estímulo fiscal neste ano. Por outro lado, uma inflação ainda elevada, juros altos, desaceleração da economia global e incerteza política “provavelmente adicionarão ventos contrários” à atividade.
A previsão do Itaú Unibanco de 2,2% deve caminhar para algo entre 2,5% e 3%, afirma a economista Natália Cotarelli.
De acordo com ela, o PIB deve mostrar perda de fôlego ao longo do segundo semestre, sob efeito dos juros mais altos, que jogam contra a recuperação do consumo. “Não mudou muito a perspectiva para o segundo semestre. A gente espera uma desaceleração da economia, o PIB andando de lado”, aponta. Por ora, o Itaú Unibanco prevê leve alta de 0,2% em 2023.
A projeção da Fiesp (federação das indústrias de São Paulo) é de 2,6% para este ano, mas apenas 0,2% no próximo. A entidade afirma que a forte expansão fiscal no começo de 2022 contrabalançou os efeitos negativos do elevado patamar da taxa de juros. “O primeiro semestre pode ter sido o melhor momento da economia brasileira no ano. O segundo semestre não deverá repetir o mesmo dinamismo”, diz a entidade, em nota.
Laiz Carvalho, economista para Brasil do BNP Paribas, afirma esperar um crescimento próximo de 1% para o terceiro trimestre. Ela diz que o grande destaque do trimestre passado foi a recuperação do setor de serviços acima do esperado, com a contribuição também de transferências temporárias maiores para a população. “No terceiro trimestre tem o Auxílio Brasil maior e os vouchers para motoristas. A perspectiva é que essas transferências ajudem, e o PIB do trimestre também seja bastante positivo.”
Presidente do Itaú Unibanco, Milton Maluhy Filho afirmou que, apesar do PIB acima do esperado, o cenário olhando para frente ainda inspira cautela. “A política monetária ainda não fez o efeito na intensidade que se espera que tenha”, disse o executivo nesta quinta em conversa com jornalistas.
“Além disso, a inflação vigente é muito alta, o que continua pressionando a capacidade de pagamento, da baixa renda sobretudo.”
Maluhy Filho disse ainda que a política fiscal a partir de 2023 é a principal dúvida que paira no mercado, e que será a variável que vai direcionar a economia nos próximos anos. Segundo ele, a responsabilidade fiscal tem de continuar presente e independente do resultado das eleições.
Daniel Xavier Francisco, do departamento econômico do banco ABC Brasil, elevou a previsão de 2,2% para 2,8% para o PIB do ano. Dados antecedentes disponíveis, segundo ele, indicam desaceleração do crescimento para 0,4% no terceiro trimestre e um resultado do PIB sem variação nos três últimos meses do ano, reflexo das condições financeiras mais apertadas.
“Neste segundo semestre, contaremos ainda com estímulos fiscais remanescentes e melhora marginal nos dados de mercado de trabalho, ao passo que o efeito dos juros reais mais restritivos começará a pesar para o outro lado.”
Impactos da reabertura e de estímulos Conforme economistas, a alta de 1,2% no segundo trimestre deste ano pode ser associada aos efeitos da reabertura de atividades econômicas, especialmente de serviços, após as restrições na pandemia.
O crescimento da ocupação no mercado de trabalho e a adoção de estímulos como os saques de contas do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) e a antecipação do 13º de aposentados também geraram impactos.
“É um bom resultado. Não há dúvida. A questão é: continuar com esse crescimento é muito difícil”, analisa o economista Claudio Considera, coordenador de contas nacionais do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas).
Na visão de Mirella Hirakawa, economista sênior da AZ Quest, a atividade econômica mostra desempenho mais forte do que o esperado inicialmente. Diante desse quadro, a instituição também elevou a projeção para o PIB deste ano, de 2,2% para 2,8%.
Para 2023, a expectativa, porém, é de um recuo de 0,4%. A previsão anterior era de baixa de 0,5%. “A gente espera que a política monetária faça o seu trabalho”, diz Hirakawa.
O banco Original, por sua vez, passou a prever alta de 2,7% para o PIB deste ano. A estimativa anterior era de 2,3%.
“Em conversas com clientes internos do banco, da indústria e do varejo, fomos informados que as empresas já se preparam para as festas de fim de ano e têm expectativa de que as vendas também possam se beneficiar do evento da Copa do Mundo”, disse o Original.
Em julho, a equipe econômica do governo elevou a projeção de crescimento do PIB para 2022 de 1,5% para 2%. O Ministério da Economia informou nesta quinta que o número será revisado para cima.