Cibele Chacon – da redação
A policial militar Josiele Veríssimo da Silva, de 37 anos, moradora de Paranavaí, realizou uma ação de extrema generosidade que salvou a vida de um desconhecido. Através do banco de doações de medula óssea, ela encontrou compatibilidade com um paciente e não hesitou em se disponibilizar para a doação. A coleta foi realizada no dia 22 de julho em um hospital de Juiz de Fora, em Minas Gerais.
“Em 2016, acompanhei uma turma de alunos do 8° Batalhão para fazerem doação de sangue no Hemonúcleo de Maringá. Resolvi doar sangue como incentivo para eles e o hemonúcleo ofereceu o cadastro de medula óssea, que eu aceitei de pronto,” relata Josiele.
“Me ligaram no dia 23 de novembro de 2023. Eu geralmente não atendo ligação de número desconhecido, mas naquele dia atendi. Cheguei a pensar que fosse um golpe, mas a pessoa sabia todos os meus dados de saúde, o que me chamou a atenção. Eles queriam saber se eu estava disposta a efetuar a doação nos próximos seis meses”, explicou a policial militar.
Após refazer testes no hemonúcleo de Paranavaí e enviar amostras para Barretos (SP), a confirmação da compatibilidade veio em fevereiro de 2024. O procedimento de doação estava inicialmente agendado para Porto Alegre (RS) durante a Páscoa, mas foi adiado devido às chuvas no sul do país. Em meio a essa espera, Josiele enfrentou a perda de seu pai, que faleceu após 24 dias na UTI.
“Foi um momento muito difícil, mas parecia que estavam esperando eu passar por isso. Meu pai acompanhou o início do procedimento e já estava orgulhoso de mim. Ele dizia: ‘Eu digo que você é uma peça rara!'”
O procedimento foi finalmente agendado para Minas Gerais. Josiele descreve o processo detalhadamente, desde a preparação com injeções diárias que causaram algumas dores, até a coleta realizada no hospital Monte Sinai. “Foi uma montanha-russa de sentimentos. A dor era incômoda, mas saber que estava ajudando alguém fazia tudo valer a pena. Meu namorado, Gustavo, esteve comigo desde a primeira coleta e me deu todo o suporte necessário”, disse.
O processo de doação
A preparação para a coleta começou no dia 18 de julho, com Josiele recebendo duas injeções diárias na barriga para mobilizar as células-tronco, aumentando sua produção e enviando-as para a corrente sanguínea. “Os efeitos foram dores locais, dores lombares e dor de cabeça,” explicou.
Em 21 de julho, Josiele foi internada no hospital Monte Sinai, referência em transplantes de medula no país. “Eles fazem um teste sanguíneo no quarto dia para contar a quantidade de células-tronco produzidas. Era necessário um mínimo de 20 milhões de células, e minha contagem no quarto dia já era de 270 milhões.”
Devido ao tamanho de suas veias, Josiele precisou de um cateter na jugular para a coleta, que durou quatro horas. “O procedimento foi completamente indolor, só precisei ficar deitada vendo TV e conversando com os enfermeiros.”
Recuperação e Reflexão
Após a coleta, Josiele ficou sob observação por 24 horas no hospital e mais um dia no hotel. “Senti cansaço e fadiga, mas isso melhora a cada dia,” disse. “Durante todo o procedimento, a alimentação foi normal, apenas com restrição ao álcool devido à medicação.”
Josiele enfatiza a importância da doação de medula óssea e incentiva outras pessoas a se cadastrarem. “Super sim. Por isso postei todo o processo e adorei que chegou até o jornal. Divulgar é possível. Não há filas para receber medula, você recebe quando o compatível aparece, pois ela é só sua, só compatível com você. Então, basta cadastrar. Quando aparecer o seu, você salva ou é salvo.”
A importância da doação
Lucas de Oliveira, chefe do Hemonúcleo Regional de Paranavaí, destacou a importância da doação de medula óssea. “É um ato de solidariedade que pode ser a única chance de cura para muitas doenças de sangue, como leucemia, linfomas e alguns tipos de anemia.”
Para se tornar um doador, é necessário ter entre 18 e 35 anos, estar em bom estado de saúde e comparecer ao hemonúcleo local para realizar o cadastro. “O cadastro é mundial, e daqui de Paranavaí enviamos amostras de sangue para testes de compatibilidade para todo o mundo, incluindo Estados Unidos e países da Europa,” explicou Lucas.
Josiele compartilhou que o processo é sigiloso e que ela não sabe nada sobre o paciente que ajudou, além do fato de que ele recebeu a medula dois dias após a coleta. “Tenho sim vontade de saber para quem foi, mas só teremos acesso a essas informações após dois anos.”
Como se tornar doador de medula óssea
Para se tornar um doador de medula óssea, o interessado deve comparecer ao Hemonúcleo Regional de Paranavaí com um documento oficial e fazer o cadastro. Será colhida uma amostra de sangue para teste de compatibilidade (HLA). Se houver uma possível compatibilidade, o doador será convocado para novos testes.
Requisitos:
- Ter entre 18 e 35 anos de idade (o doador permanece no cadastro até 60 anos e pode realizar a doação até esta idade).
- Um documento de identificação oficial com foto.
- Estar em bom estado geral de saúde.
- Não ter nenhuma doença impeditiva para cadastro e doação de medula óssea.