*Anderson Alarcon
A política é um palco iluminado por promessas, mas cercado de bastidores sombrios. Ali, onde os abraços são largos e as palavras soam doces, muitas vezes escondem-se punhais invisíveis. Traição na política não é acidente: é quase regra escrita nas entrelinhas da ambição humana.
A história é testemunha implacável. Júlio César, poderoso em Roma, tombou sob as lâminas de seus próprios aliados, entre eles o filho adotivo, Marco Bruto. Desde então, o mundo aprendeu que, na política, os inimigos não são os que gritam contra você na praça pública, mas os que sorriem ao seu lado no corredor estreito do poder.
No Brasil, também tivemos nossas tragédias políticas embaladas pela traição. Getúlio Vargas, levado ao auge por mãos que depois lhe viraram as costas, terminou a vida cercado por desertores. Juscelino Kubitschek, sonhador de Brasília, conviveu com conspirações de quem um dia o aplaudiu. Cada ruptura, cada golpe, deixou cicatrizes que ainda ecoam na memória nacional.
Mas a traição, apesar de barulhenta, é sempre passageira. Porque o que move o traidor é a sede curta do poder imediato, enquanto o que sustenta o leal é a paciência longa da história. Traidores brilham por instantes, como faíscas, mas desaparecem antes mesmo de acender uma chama. Os traídos, estes sim, permanecem, porque seus nomes não se escrevem apenas em atas políticas, mas na lembrança popular.
Hoje, em tempos de redes e vigilância constante, o ato de trair parece ainda mais exposto. O eleitor já não se contenta em aplaudir discursos: ele filma, comenta, compartilha. Aquele que troca de lado por conveniência já não encontra o mesmo abrigo no silêncio da multidão. O povo, afinal, aprendeu a decifrar os gestos.
E, no entanto, a política não se livrará tão cedo de suas feridas. Continuará sendo território de alianças frágeis e rupturas súbitas. Mas também continuará sendo lugar de esperança, onde alguns conseguem atravessar a tempestade sem se sujar da lama. São estes que, no fim, ficam gravados como referência de dignidade.
Porque o tempo, senhor de todas as coisas, sempre revela o que o instante esconde. O tempo mostra os traidores, que se dissolvem na poeira do esquecimento, e revela os traídos, que a história insiste em exaltar. No tribunal silencioso da memória, a lealdade é sempre a última palavra.