A adesão dos times de futebol ao formato de Sociedade Anônima de Futebol (SAF), o chamado clube-empresa, vem crescendo no Brasil. Além do Red Bull Bragantino e Cuiabá, que já adotam o modelo, o Cruzeiro anunciou a adesão com o recente anúncio de compra de 90% de suas ações pelo ex-jogador Ronaldo Nazário. Outros times como o Botafogo, América MG, Chapecoense, Athletico Paranaense, Juventude, Vasco da Gama e Coritiba também estudam aderir ao formato. Mas afinal, por que cada vez mais investidores apostam suas fichas no futebol brasileiro, mesmo com os clubes atolados em dívidas milionárias?
O especialista em gestão empresarial e recuperação de empresas e CEO da BeYou Education, Ricardo Souza, explica que a gestão do futebol está passando por um processo de profissionalização e, mesmo com as dívidas milionárias, um investimento e uma administração bem-sucedida podem dar retornos mais atraentes que nas empresas convencionais. “O Cruzeiro, por exemplo, possui uma dívida de R$ 1 bilhão, mas isso é ‘fichinha’ para o Ronaldo caso ele faça um bom trabalho. Um exemplo é o Flamengo, que já está sendo administrado com essa mente de empresários e tem uma projeção de faturamento de um R$ 1 bilhão em 2022”.
O especialista conta que, ao profissionalizar a gestão, até os clubes pequenos, que não têm uma grande torcida, conseguem alcançar altos lucros diversificando as fontes de receita, que vão muito além da venda dos direitos de transmissão para a TV. “É possível trabalhar a marca do clube, atrair patrocinadores e jogadores, o que pode aumentar ainda mais o caixa dos clubes”, comenta.
No caso do Cruzeiro, a participação da XP na intermediação da venda é, segundo Souza, um indicativo de que o clube poderá permitir que suas ações sejam negociadas por pessoas físicas. “O mercado de ações pode se tornar outra fonte de receita para o Cruzeiro. Se o clube optar por fazer um novo estádio, novas dependências também terão um investimento imobiliário, atraindo ainda mais patrocinadores e parcerias. São muitas as opções de lucro de um clube-empresa, sem contar a venda de jogadores e os direitos de transmissão que sempre foram as principais fontes de renda no mundo do futebol”, enumera o CEO da BeYou Education.
Com tantas opções de retorno, os clubes têm entrado na mira de investidores, pois podem apresentar lucros maiores do que o de empresas. “Se você investe no Flamengo, com a fase em que estão vivendo dentro e fora dos gramados, seus retornos se tornam muito maiores do que investir numa Petrobrás, por exemplo”, afirma.
Boa gestão – O especialista em gestão empresarial e recuperação de empresas alerta que apenas alterar o formato não basta para se ter sucesso. “É necessário que o empresário ou empresa responsável saibam gerir e administrar bem. No Brasil, o Figueirense e o Botafogo-SP têm o status de SAF, mas após más gestões foram rebaixados para a terceira divisão do Brasileirão de 2021.”
No entanto, a tendência é de sucesso. Estudo da EY Sports mostrou que 92% dos clubes das cinco ligas mais ricas do mundo são empresas. “Virar um clube empresa não garante o sucesso comercial de um time, mas é um fator decisivo para que os clubes deixem para trás o histórico de dívidas”, afirma Souza.