Professoras e terapeuta de Paranavaí explicam a função da escrita no desenvolvimento cognitivo, da coordenação motora e da criatividade
REINALDO SILVA
Da Redação
Beatriz e Murilo têm 7 anos. Maria Alice, 8. Os três estão no segundo ano da educação fundamental e estudam na Escola Municipal Jayme Canet, em Paranavaí. Em todas as sextas-feiras, eles e os demais amiguinhos de turma têm aula de produção textual: leem livros e colocam no papel relatos sobre a história.

Foto: Gustavo Romano

Foto: Gustavo Romano

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A sala é silenciosa – pelo menos às sextas-feiras, brinca a professora de língua portuguesa Bruna Letícia Santana. E não poderia ser diferente. As crianças estão concentradas, querem entender o que acabaram de ler, querem escrever, letra por letra, o que consideram mais importante. As palavras ganham forma de texto na folha em branco e revelam a criatividade de cada aluno.
“Para criar, é preciso ter base. Não é fácil. Explico que quanto mais leem, mais repertório têm para escrever. Não é ler por ler, é preciso entender”, diz a professora.

Foto: Gustavo Romano
Chefe do Setor Pedagógico da Secretaria de Educação de Paranavaí, Rosângela Gonçalves Viana Aoki é professora há 25 anos. Ela explica: “Quando a criança aprende a escrever, também desenvolve várias habilidades importantes, como a coordenação motora fina, que é essencial nessa fase”. Além disso, escrever contribui para o fortalecimento dos músculos das mãos e dos dedos.
“Isso vai facilitar a execução de futuras tarefas que exigem destreza manual. Então, para auxiliar nesse processo de escrita, também é importante trabalhar atividades grafomotoras – pontilhados e traçados, por exemplo. Trabalhamos direita, esquerda, lateralidade, em cima, embaixo”, detalha Rosângela Aoki.
Conforme as diretrizes da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), dentro da escola, as crianças começam a ter contato com a escrita a partir dos 4 anos. “No infantil 4, a criança tem acessibilidade para trabalhar as letrinhas, o traçado… A princípio, são as letras em caixa alta, até [os alunos] estarem alfabetizados. No segundo ano, já estão com idade adequada para fazer a transição para a letra cursiva”, pontua a chefe pedagógica da Seduc.

Foto: Ivan Fuquini
Viagens pela escrita
Beatriz, Murilo e Maria Alice, de quem falamos antes, estão no silêncio da sala de aula, exclusivo das sextas-feiras, como havia confidenciado a professora de língua portuguesa. Lápis na mão, papel sobre a carteira e muita imaginação.
Beatriz gosta de escrever. “Não é muito difícil, desde o primeiro ano já era mais fácil.” A história mais legal que já escreveu conta as aventuras de um cachorro que encontrou um volante mágico que o leva e as amigas ovelhas por viagens fantásticas para diferentes lugares.
Murilo garante que “tira de letra” a escrita cursiva. Ele também gosta de escrever, e pratica sempre que pode, na escola e em casa. Dentre os relatos mais marcantes que já fez está a história de um burro que queria ser cantor e foi para a floresta para realizar o sonho. Ele e os amigos cachorro, gato e galinha se tornaram cantores.
Maria Alice não tem dúvidas: “Escrever à mão não é difícil”. É mais divertido que o tablet? “Sim.” “E sobre qual livro você gostou mais de escrever?” “O tatu e o sapo.” É uma história de encontros e desencontros, e fala sobre a amizade e a solidão.
A diretora da Escola Municipal Jayme Canet, Alessandra Gomes Rodrigues, destaca o projeto Leitura e Imaginação: embarque nessa emoção. A iniciativa inclui diferentes atividades ao longo do ano letivo, com a leitura de livros, apresentações com fantoches e intercâmbio de alunos de diferentes turmas. Depois de ler, as crianças escrevem.
Escrita e terapia
A neuropsicopedagoga e musicoterapeuta de Paranavaí Roberta Palomo afirma que a escrita à mão pode indicar traços da personalidade, mas, mais do que isso, pode revelar se a criança em processo de aprendizagem tem dificuldades motoras.
“A criança com escrita perfeita, com certeza, tem um entendimento melhor. Porque a escrita nada mais é que uma arte, é um desenho, e se ela não consegue desenhar, algum problema tem.” Roberta Palomo cita questões emocionais, sociais e cognitivas. Exemplifica: “Pode ser uma criança hiperativa ou com TEA [transtorno do espectro autista]”.

Foto: Ivan Fuquini
A musicoterapia é um instrumento importante para fortalecer a motricidade das crianças. Nas teclas do piano ou no bater das baquetas, os pequenos aprendem a fazer movimentos finos que contribuem para melhorar a escrita. Há ainda o contato com sons, cores e texturas que complementam o trabalho.