Necessidade de transportar pessoas a referências hospitalares de diferentes regiões motivou requerimento aprovado esta semana na Câmara de Vereadores
REINALDO SILVA
Da Redação
Quais as principais patologias que motivam o encaminhamento de pacientes para outras cidades? Quais as cidades para onde são encaminhados pacientes? Qual foi o gasto em 2024 com o transporte, próprio ou contratado, de pacientes para outras localidades? Há estudo do impacto financeiro em decorrência da não prestação desses serviços de saúde em Paranavaí?
Os questionamentos acima constam do Requerimento 80/2025, assinado pelos vereadores de Paranavaí Waldur Trentini, Roberto Marrique, Antônio Carlos Utrila e Luiz Aparecido da Silva. O texto é endereçado à prefeitura e foi aprovado por unanimidade na sessão legislativa ordinária de segunda-feira (14).
Ao justificar o pedido de informações, os propositores argumentam: “Estamos exportando pacientes para fora de Paranavaí”, mesmo diante do fato de que “aqui temos (ou deveríamos ter) um hospital público regional todo SUS”, referência à Santa Casa, mantenedora de duas unidades hospitalares, uma na região central da cidade e outra no Jardim Morumbi.
O transporte de pacientes para atendimento em outros municípios é tema recorrente nos pronunciamentos de Trentini.

Foto: Secretaria de Saúde
No dia 3 de fevereiro, por exemplo, o parlamentar citou a busca por serviços em Colorado, a 83 quilômetros de Paranavaí, em Arapongas, a 135 quilômetros, e em Umuarama, a 148 quilômetros. Na ocasião, afirmou: “O lógico seria ter atendimento em Paranavaí ou, pelo menos, buscar atendimento em município mais próximo, como, no caso, Maringá, a 74 quilômetros”.
Na sessão ordinária desta semana, ao discutir o Requerimento 80/2025, Trentini propôs o esforço de todas as esferas de governo – municipal, estadual e federal – e da Santa Casa no sentido de oportunizar o acesso em Paranavaí.

Foto: Ivan Fuquini
As questões levantadas pelos propositores da matéria incitaram a manifestação da maioria dos vereadores. O vídeo com a transmissão da sessão legislativa está disponível no canal da Câmara de Vereadores de Paranavaí no Youtube. Para conferir o conteúdo, basta procurar pela 11ª sessão ordinária. A votação do Requerimento 80/2025 começa a partir de duas horas, 19 minutos e 22 segundos.
Secretaria de Saúde
O Diário do Noroeste conversou com a secretária municipal de Saúde, Andreia Vilar, que explicou a situação: os pacientes são enviados a outras cidades apenas quando não há oferta de serviços em Paranavaí ou quando a disponibilidade é insuficiente para suprir a demanda.
De forma resumida, os governos estadual e federal são responsáveis por custear os procedimentos das chamadas especialidades, caso da ortopedia, da cardiologia, da urologia, da otorrinolaringologia… Cada região tem hospitais de referência contratados para realizar cirurgias através do Sistema Único de Saúde (SUS) – em Paranavaí, a Santa Casa, que também recebe pacientes dos demais municípios do Noroeste.
Ocorre que nem sempre a capacidade de execução dos procedimentos cirúrgicos é compatível com a procura, como mostra o seguinte exemplo dado pela secretária de Saúde:
“A Santa Casa oferta para nós, município de Paranavaí, seis cirurgias de otorrino por mês. O que eu vou fazer com seis cirurgias de otorrino por mês? Com uma população de 95 mil pessoas, nada. O que eu fiz? Procurei a Santa Casa e falei: ‘preciso que vocês ampliem as cirurgias eletivas de otorrino, porque é insuficiente, não consigo andar com a fila operando seis pacientes por mês’.”

Foto: Ivan Fuquini
A resposta que afirmou ter obtido: “A gente não tem capacidade de operar mais pacientes, não temos interesse” – seja por falta de médicos, seja por não haver equipamentos.
Com a negativa, a Secretaria de Saúde precisou buscar alternativas. Encontrou em Colorado a possibilidade de ampliar a oferta de cirurgias de otorrino aos pacientes de Paranavaí. Contratou os serviços e conseguiu acrescentar mais 12 procedimentos por mês, totalizando 18. Essa também foi a decisão tomada em relação a outras especialidades.
Encaminhamentos
De acordo com Andreia Vilar, em 2023 os encaminhamentos foram os seguintes:
- Primeiro atendimento em Curitiba: 309
- Retorno em Curitiba: 3.798
- Atendimento em outras regiões: 16.442
- Total: 20.549
- Média mensal: 1.712.
Os registros de 2024 são os seguintes:
- Primeiro atendimento em Curitiba: 346
- Retorno em Curitiba: 3.965
- Atendimento em outras regiões: 17.993
- Total: 22.304
- Média mensal: 1.858.
Referências
As referências para pacientes de Paranavaí e região, por indicação do governo do estado ou por contrato via Consórcio Intermunicipal de Saúde, são as seguintes:
- Maringá – oncologia
- Colorado – ortopedia e otorrinolaringologia
- Arapongas – cardiologia, ortopedia, vascular, neurologia e neurocirurgia
- Umuarama – ortopedia, neurologia, neurocirurgia e urologia
- Londrina – oncologia pediátrica, iodoterapia, radioterapia e oftalmologia
- Carlópolis/Santa Mariana – urologia, ginecologia, vascular
- Sarandi – retornos da Central de Leitos
- Cianorte – ressonâncias e tomografias de coerência óptica
- Campo Largo – (especialidades pediátricas) pneumologia, reumatologia, cardiologia, infectologia, gastroenterologia, ortopedia e cirurgia geral, além de tomografias
- Curitiba – todas as especialidades de tratamento em alta complexidade
- Fazenda Rio Grande – todas as especialidades de tratamento em alta complexidade.
“Todas as vezes quando eu mando o paciente para outra referência é porque eu já tentei, esgotei todas as possibilidades dentro da referência do município, que é a Santa Casa”, reiterou a secretária de Saúde.
Santa Casa
Recentemente a equipe do Diário do Noroeste conversou com o diretor-geral da Santa Casa, Héracles Alencar Arrais, e perguntou sobre os apontamentos feitos pelo vereador Waldur Trentini quanto à capacidade de atendimento. Arrais preferiu não se manifestar.