No trecho entre a Avenida Distrito Federal e a Rua Marechal Cândido Rondon, que compreende seis quadras, há quase 30 imóveis e salas comerciais para alugar
REINALDO SILVA
Da Redação
A quantidade de imóveis fechados na Rua Manoel Ribas tem voltado as atenções para a região central de Paranavaí. São quase 30 lojas e salas comerciais nessa situação no trecho desde a Avenida Distrito Federal até a Rua Marechal Cândido Rondon, que compreende seis quadras. O maior número se concentra entre as ruas Paraíba e Minas Gerais, com pelo menos 10 placas anunciando aluguel.

O problema ganhou repercussão em recente publicação na página @nacidadepro no Instagram. Milhares de pessoas curtiram e comentaram o assunto, levantando questões como fatores econômicos, altas taxas tributárias, preços de aluguel e mudanças no comportamento do consumidor.
Para o presidente da Associação Comercial e Empresarial de Paranavaí (Aciap), Ed Wilson, é preciso considerar que historicamente aquela região é, sim, menos movimentada, e isso compromete a procura por imóveis comerciais. “Aquele local sempre teve espaços vazios. Aquela parte é um pouco esquecida.”

Foto: Arquivo DN
Seria necessário criar condições atrativas para a instalação de uma grande empresa, “que seja o carro-chefe”, disse o presidente da Aciap, como na Rua Getúlio Vargas. A sugestão é que o poder público busque alternativas para tornar a via mais movimentada. A avaliação dele é que a quantidade de prédios fechados tem impacto negativo sobre a dinâmica econômica do setor.
Mercado – Corretora de imóveis, perita avaliadora judicial e delegada municipal do Conselho Regional de Corretores de Imóveis (Creci) em Paranavaí, Ana Carolina Nakatani apontou características que justificam o êxodo dos comerciantes da área central da cidade. Uma delas é a eventual falta de vagas de estacionamento. Apesar da praticidade do sistema rotativo, há ocasiões em que os consumidores não encontram pontos acessíveis e acabam desistindo da compra, o que interfere nos resultados financeiros dos lojistas.

Foto: Ivan Fuquini
Diante dessa dificuldade, muitos empreendedores preferem encontrar lugares com maior disponibilidade de espaço para os veículos dos clientes e migram para os bairros, onde encontram ruas e avenidas mais largas.
A possibilidade de encontrar imóveis maiores e dividir os custos entre vários profissionais também motiva a mudança. A delegada do Creci citou como exemplo uma clínica que oferece serviços de saúde que reúne nutricionista, psicólogo, fisioterapeuta e médico. “Isso reduz, enxuga o valor do aluguel, e não se torna um problema.”
A descentralização dos estabelecimentos comerciais e prestadores de serviços revela outra condição. “Paranavaí está crescendo, é natural que isso aconteça”, disse Ana Carolina Nakatani.
O argumento é compartilhado pelo presidente da Aciap. Ed Wilson analisou: “O centro [comercial] está crescendo, então vai ter impacto nessas ruas. Antigamente só se falava em Getúlio Vargas, Manoel Ribas, Minas Gerais e Souza Naves. Hoje tem se expandido, indo para a Pernambuco, a Rio Grande do Norte e chegando próximo da Praça dos Pioneiros”.
Comércio digital – O secretário municipal de Desenvolvimento Econômico, Carlos Henrique Scarabelli, ponderou: “O principal fator é a mudança no hábito de consumo das pessoas, com as lojas virtuais mais presentes. O e-commerce tem facilitado muito, dando a comodidade de comprar sem sair de casa”.

Foto: Arquivo DN
Dados da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm) mostram que em 2024 o número de compradores on-line no país chegou a 91,3 milhões, 10,5% a mais que no ano anterior.
No aspecto social, também considerando os números nacionais, as mulheres lideram as compras virtuais, com maior expressão na Região Sudeste, a mais ativa em transações digitais. A classe C foi a faixa econômica que se destacou.
Valor do aluguel – A delegada municipal do Creci explicou que o preço cobrado pelos proprietários de imóveis dos locatários é estipulado com base no valor venal, que, em resumo, faz referência ao preço de venda da edificação.
“O imóvel não é mal avaliado. O valor venal tem que gerar uma renda mínima. Não adianta o imóvel ter valor agregado alto ou médio, mas cobrar aluguel que não paga.”
Em rápidas análises sobre essa questão, o presidente da Aciap e o secretário municipal de Desenvolvimento Econômico disseram que há exageros em algumas situações, com cobranças elevadas de aluguel.
Uma das propostas da administração municipal é aplicar o IPTU progressivo, que consiste no aumento do IPTU cobrado de um imóvel como sanção pelo descumprimento de condições e prazos para o parcelamento, a edificação e a utilização compulsória. A estratégia não busca aumentar a arrecadação, mas, sim, obrigar a adequar o uso do imóvel.
Segundo Scarabelli, os estudos estão em andamento, e em uma etapa do processo haverá fiscalização para verificar quais imóveis estão vazios. “Se o imóvel está vazio e o dono não está sendo flexível, a gente considera que o valor do mercado que ele quer explorar deve ser traduzido no IPTU.” A medida será essencial para que “o dono do imóvel tenha uma flexibilidade no uso dele”.