ADÃO RIBEIRO
O ano é 1988. Paranavaí vive uma trajetória de gestores desde a sua fundação no ano de 1952, revezando no poder nomes tradicionais e de grande prestígio como José Vaz de Carvalho e Benedito Pinto Dias. Surge neste cenário um candidato a prefeito: o empresário Rubens Felippe, então presidente da Associação Comercial. Ele vence a eleição e representa uma virada, levando para a gestão pública a visão empresarial, de negociador habilidoso, diretor de uma das maiores redes de varejo do Sul do Brasil: Casas Felipe.
Rubens Felippe, hoje, está com 87 anos e gozando de boa saúde. Ele recebeu a reportagem do Diário do Noroeste em sua casa na Rua Getúlio Vargas, durante a manhã da última quinta-feira (16). Falou de sua gestão, que representou um “divisor de águas” na administração pública. Também deu opinião sobre o tempo presente e a necessidade de estimular novas lideranças para a política.
Voltando a 1988, Felippe se recorda que era vice-presidente da Aciap e que emprestou seu nome para colaborar no desenvolvimento da associação. Porém, o presidente Régis Diamante renunciou. Então, coube a ele presidir a entidade. O seu trabalho se destacou, credenciando o empresário para a disputa política. O executivo e professor Edimar Lima Cordeiro deu a ideia, acatada por todos: Rubens Felippe será o nosso prefeito.
Ciente do desafio, Felippe topou e passou a conversar sobre apoios. Foi uma disputa dura, tendo como principais adversários o popular radialista Dionísio Ferraz Júnior e o comerciante e agropecuarista Carlos Bergamini, também destacado pela sua atuação como presidente da Sociedade Rural do Noroeste do Paraná, realizadora da maior festa da região, a ExoParanavaí.
Rubens Felippe foi para a disputa voto a voto com Ferraz Júnior e acabou vencedor. Começava ali o novo modelo de gestão, focado na visão empresarial. Ele concorda que teve sorte, pois foi um tempo de bom fluxo de caixa na Prefeitura. Também contaram a sua capacidade gerencial e a sua equipe de secretários. “Fizemos muitas obras”, lembra, reforçando que cuidava pessoalmente da economia dos recursos e contratação dos serviços juntamente coma equipe técnica.
O Estádio – Rubens é conhecido pela sua capacidade de fazer obras. E a maior delas é também a que guarda com mais carinho: o Estádio Municipal Waldemiro Wagner. Ele lembra que a construção foi possível porque o município economizou recursos e fez a obra com a maioria dos serviços executada por funcionários. Só serviços indispensáveis foram terceirizados. Rubens abre um parêntese para agradecer ao sobrinho então presidente do Serpavi, José Augusto Felippe, que o sucedeu na Prefeitura, eleito em 1992 para o mandato 1993/1996.
O estádio é emblemático não apenas por ter se tornado o principal cartão postal da cidade. Também resolveu o maior problema da área: uma erosão que consumia vários metros a cada chuva, ameaçando “engolir” casas e estruturas urbanas. O grande buracão da cidade marcou a infância de muitos paranavaienses que brincavam no seu entorno sem a exata noção do perigo de deslizamento. Ainda sobre o estádio, Felippe lamenta que a praça de esportes esteja com aspecto envelhecido, sem o que considera devida manutenção.
Trajetória – Voltando à política, Rubens lembra que encerrou a carreira há alguns anos e que não tem mais atuação partidária, apesar de estar filiado ao PSDB. Há cerca de dois anos se submeteu a uma cirurgia e depois evitou sair por conta da pandemia de coronavírus. Confessa que está meio desatualizado. Ainda assim, defende a participação de novas figuras na política, não necessariamente pessoas novas de idade, mas de visão sobre o trabalho em prol da comunidade.
Quanto à busca constante por consenso nas eleições, Rubens adverte que a pessoa não pode pensar em fazer acordo em torno de si, mas sim de grupos e de pessoas que tenham chances de vitória e de efetivamente ajudar Paranavaí e região.
Disputas – Rubens Felippe foi prefeito e anos depois tentou voltar ao cargo, mas teve desempenho eleitoral ruim no ano 2000, acabando em quarto lugar no pleito que elegeu Deusdete Ferreira de Cerqueira (gestão 2001/2004). Ele retornaria à cena política em 2004, na condição de candidato a vice na chapa do prefeito vitorioso Mauricio Yamakawa (gestão2005/2008). Aliás, em 2012 houve outra virada e Felippe foi vice na chapa de Rogério Lorenzetti, reeleito naquele ano e que permaneceu na chefia do Poder Executivo até 2016.
Sobre política, reitera que não está acompanhando. Ainda assim, avalia como positiva a administração do presidente Jair Bolsonaro e defende o resgate do patriotismo. Entende que Bolsonaro foi prejudicado pela pandemia, mas destaca os resultados positivos na economia e na infraestrutura. Tem ainda avaliação positiva sobre a gestão do prefeito Carlos Henrique Rossato Gomes (KIQ).
Sobre conselhos, tem apenas uma dica ao ser instigado pela reportagem: Tome decisão, não adianta enrolar ou deixar para depois.
Empresa – Rubens Felippe ganhou notoriedade no mundo empresarial pela participação na empresa de varejo de grande projeção no Sul do Brasil. Ele se recorda que por conta das dificuldades apresentadas na década de 1990, as lojas foram vendidas para o Magazine Luiza, hoje uma das gigantes do varejo nacional.
Rubens já era produtor rural e passou a se dedicar mais ao plantio de soja em propriedade rural no Mato Grosso do Sul desde então. Paralelamente, cuidou de assuntos da empresa recém-vendida para que tudo transcorresse dentro da normalidade, inclusive jurídica.
Antes da pandemia, Rubens Felippe era visto em muitas andanças pela cidade, frequentando lugares de bom papo e de debates políticos. Informa que pretende voltar a circular pela cidade com o fim da pandemia de coronavírus e completo restabelecimento da saúde. Recentemente fez uma cirurgia e trata de uma correção nos olhos. Nada que o impeça de no futuro próximo retomar o contato com o povo, algo que faz com muita naturalidade.