*Ramon Andrade de Mello
A melhoria da qualidade de vida é um importante avanço para a população. Acompanhamos nas últimas décadas uma mudança significativa da expectativa de vida dos brasileiros, com o crescimento do número de idosos, que trazem impactos diretos na área da saúde.
O avanço da melhoria da infraestrutura, principalmente no setor de saneamento básico, trouxe ainda uma mudança do perfil das doenças no país. Passamos de uma nação com registros de enfermidades infecto-parasitárias, típicas das localidades em desenvolvimento, para um aumento das chamadas Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT), como diabetes, hipertensão, entre outras. Já o envelhecimento desponta como um dos fatores para o desenvolvimento do câncer devido a um acúmulo de riscos, combinado com a tendência da redução da eficácia dos mecanismos de reparação celular.
No Brasil, as doenças oncológicas já respondem como a principal causa de morte em 10% dos municípios. Dados do Inca (Instituto Nacional de Câncer) mostram que essas enfermidades vêm crescendo ao longo dos anos. No período de 2018 e 2019, foram 600 mil novos registros dessas enfermidades. Para 2020-2022, a instituição elevou o número para 625 mil novos casos.
No mundo, o câncer é a segunda principal causa de morte e 70% delas são registradas em países de baixa e média renda. De acordo com os dados da OMS (Organização Mundial da Saúde), aproximadamente um terço das mortes por tumores oncológicos está diretamente relacionado a cinco principais riscos comportamentais e alimentares: alto índice de massa corporal, baixo consumo de frutas e vegetais, ausência de atividade física e consumo de álcool e de tabaco, que reponde por 22% das ocorrências. Nos países de baixa e média renda, os cânceres provocados por infecções como hepatite e papilomavírus humano (HPV) respondem por aproximadamente 22% das mortes.
As mudanças de hábitos podem ser feitas aos poucos, mas precisam ser progressivas. É importante praticar exercícios pelo menos três vezes por semana, com 60 minutos por dia. Já a Sociedade Americana de Medicina Desportiva recomenda, por exemplo, atividades físicas de 160 minutos no mínimo, por semana, para evitar o sedentarismo. Isso pode ser feito na caminhada no começo ou final do dia. Ou até mesmo dispensar o elevador e subir as escadas do prédio também já ajuda.
A obesidade é outro fator que elava o risco da doença porque o tecido gorduroso aumenta a produção do hormônio estrogênio e pode estar relacionado a um estado inflamatório sistêmico no indivíduo. Portanto, atenção redobrada com aquilo que colocamos no prato. Uma alimentação equilibrada contribui muito para a prevenção dos tumores oncológicos.
Se avançarmos na prevenção, encontraremos pela frente as inovações das pesquisas com medicamentos oncológicos. Essas novas descobertas já permitem vislumbrar, num horizonte de curto e médio prazos, a abordagem do câncer como uma doença crônica, assim como hoje ocorre com a hipertensão ou a diabetes. É apenas uma questão de tempo.
*Ramon Andrade de Mello é médico com PhD em oncologia pela Universidade do Porto, Portugal, e professor da disciplina Oncologia Clínica do doutorado em medicina da Universidade Nove de Julho (Uninove)