LUCAS BOMBANA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
Ao cruzar a linha de chegada na terceira posição no snowboard cross em Gangwon, na Coreia do Sul, e conquistar a primeira medalha do Brasil nas Olimpíadas de Inverno da Juventude, o catarinense Zion Bethonico, 17 não conseguiu esconder sua frustração.
Apesar do feito inédito, o atleta de Florianópolis não tinha gostado da cor do prêmio.
“Eu sigo a mentalidade de que sou o melhor no que eu faço e desde o começo tinha certeza absoluta de que voltaria com uma medalha para o Brasil. Achava que seria de ouro”, afirmou Bethonico à Folha de S.Paulo. “Podem falar que é falta de humildade, mas é preciso esse tipo de mentalidade no esporte.”
Ele já conhecia os principais competidores que enfrentaria na Ásia e se sentia capacitado para chegar à frente deles. O que minimizou a irritação com o resultado foi a comemoração a seu redor.
“Tinha ficado bem frustrado, mas, segundos depois, escutei a celebração do time brasileiro, dos meus pais e do meu irmão, que estavam lá comigo, e a frustração passou bem rápido”, afirmou, honrado pelo ineditismo de sua façanha. “Foi algo que descobri só depois de ganhar. Não fazia ideia de que fui o primeiro.”
Segundo Bethonico, um acidente alguns dias antes da competição o atrapalhou. A cerca de um mês do início das Olimpíadas de Inverno da Juventude, ele participou da etapa da Copa do Mundo de snowboard cross em Cervinia, na Itália.
Durante os treinos, para evitar passar por cima de outro competidor que havia acabado de se acidentar à sua frente, o brasileiro fez um desvio forçado que o jogou contra uma grade de proteção. Com o impacto, sua mão ficou presa, resultando na fratura do pulso e de um dedo.
Por conta da lesão, nos dias que antecederam a participação nas Olimpíadas, Bethonico não conseguiu manter a carga de treinos físicos à qual está habituado.
No snowboard cross, em que os competidores descem uma superfície inclinada coberta de neve, o arranque inicial para a partida faz toda a diferença para o resultado final, e a fratura impediu o atleta brasileiro de realizar alguns movimentos que impulsionam a arrancada.
Passada a frustração com o resultado na Coreia, Bethonico estabeleceu a meta de chegar às Olimpíadas de Inverno de 2026, na versão adulta. A competição será realizada nas cidades de Milão e Cortina d’Ampezzo, na Itália.
Até lá, o roteiro traçado passa pela participação em competições nos Estados Unidos e na Europa, que servirão como preparação para adquirir a experiência necessária para credenciá-lo para brigar por uma vaga nas Olimpíadas daqui a dois anos.
“Ainda me falta muita experiência de corrida e muito treino de explosão para a arrancada. Falta treino realmente, treinar mais duro, mas com esforço eu chego lá.”
Residente no Canto da Lagoa, em Florianópolis, o jovem atleta foca o condicionamento físico quando está no Brasil e passa cerca de seis meses fora do país para realizar os treinos de snowboard cross na neve.
Bethonico começou ainda criança a se interessar pelo snowboard cross. Ele viajava com os pais para os Estados Unidos e praticava o esporte, ainda pouco conhecido no Brasil. Inicialmente, atuava apenas por diversão.
Prestes a sair da adolescência e entrar na vida adulta –completa 18 anos no próximo domingo (28)–, ele conta que, quando não está treinando para aprimorar o condicionamento físico, tem como hobbies surfe, artes marciais e jogos online.