Final da competição será no sábado (2) no Estádio Casa Blanca, com o Brasil em busca do nono título contra a Colômbia.
LUCAS BOMBANA
DA FOLHAPRESS
A disputa da Copa América feminina no Equador provocou nos últimos dias uma série de críticas de jogadoras e treinadores que participam da competição sul-americana, que vão desde as condições precárias dos gramados até a baixíssima presença de público nas arquibancadas.
O descaso e a falta de investimentos voltados ao futebol feminino por parte da Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol), responsável pela organização da competição, despontam como a principal razão por trás das falhas apontadas, segundo especialistas que acompanham há anos a modalidade.
Eles assinalam também que os problemas observados no torneio continental devem servir como um alerta para a organização da Copa do Mundo feminina que acontecerá no Brasil, em 2027.
“A Conmebol é uma entidade que deixa muito a desejar na organização dos campeonatos. E quando está em jogo o futebol feminino, que historicamente tem um fosso de desigualdade, com uma série de obstáculos para seu desenvolvimento, a situação acaba se tornando ainda mais complicada”, afirmou Leda Maria da Costa, pesquisadora do Observatório Social do Futebol, da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro).
CEO da Universidade do Futebol, Heloisa Rios assinalou que, embora haja jogadoras, treinadoras e outras profissionais bastante competentes no futebol feminino da América do Sul, elas não são capazes de sozinhas, fazer com que a modalidade dê um salto de patamar na região.
“Não só a Copa América, mas a própria Libertadores feminina é um reflexo do descaso da Conmebol. As postagens nas redes sociais das jogadoras denunciando o estado dos gramados, dos ônibus que as transportam para os estádios, é inconcebível, é inaceitável”, afirmou Heloísa.
A falta de planejamento fica ainda mais evidente diante do contraste com a Euro feminina, que aconteceu neste mês na Suíça.
Enquanto a Uefa (União das Associações Europeias de Futebol), responsável pela organização da Euro, aumentou em 156% a premiação destinada às seleções, com acordos de transmissão para mais de 150 países, a Conmebol apenas manteve os valores da edição de 2022, com acordos de transmissão somente entre os países da América do Sul, além dos Estados Unidos.
Além disso, enquanto a competição europeia com 16 seleções aconteceu em oito estádios espalhados por diferentes cidades suíças, a disputa sul-americana com dez equipes se concentrou em apenas três, em Quito. Foi essa escolha por parte da Conmebol que obrigou as jogadoras a se aquecerem exprimidas dentro de vestiários compartilhados nas rodadas iniciais do torneio, junto com atletas do time adversário.
Resultado do trabalho das respectivas confederações locais ao longo dos últimos anos, a Euro foi um sucesso de público, com mais de 650 mil torcedores apenas na fase de grupos, ao passo que a Conmebol sequer divulga o público das partidas, diante de estádios quase sempre vazios.
Final – A final da competição será no sábado (2) no Estádio Casa Blanca, com o Brasil em busca do nono título contra a Colômbia.
Procurada, a Conmebol não respondeu aos pedidos de comentário.
Diretora da agência de marketing esportivo End to End, Danielle Vilhena afirmou que a diferença de público reflete o investimento, a estrutura e a valorização da modalidade em cada uma das regiões.
“Na Europa, o futebol de mulheres é tratado como um produto estratégico, com ligas nacionais bem organizadas, um reflexo do sucesso da Champions inclusive, com grandes atletas em campo e forte cultura de engajamento do produto com o fã.”