GUSTAVO SOARES
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A chegada do 5G em Brasília na última semana fez aumentar o interesse por celulares compatíveis com a conexão. Contudo, embora a estreia da tecnologia atraia os early-adopters -aqueles dispostos a gastar para obter novidades-, adquiri-la logo no começo pode não ser a melhor opção para todos.
Dados do Google Trends mostram que pesquisas pelo 5G cresceram mais de 70% no Brasil na semana passada (1º a 7 de julho) em relação à anterior. Além disso, as buscas pela lista de aparelhos compatíveis registraram um aumento repentino -quando há crescimento igual ou superior a 5.000%.
Hoje, há uma variedade de opções no mercado. Os preços dos dez celulares 5G mais buscados na plataforma Buscapé variam entre R$ 1,2 mil (Xiaomi Redmi Note 10 5G) e R$ 7,2 mil (Samsung Galaxy S22 Ultra 5G).
Mas a substituição do smartphone incompatível por um novo nem sempre vai ser vantajosa para o consumidor. Para Eduardo Pellanda, professor da PUC-RS e especialista em tecnologias da informação, isso vai depender do que o usuário faz com a rede móvel.
“Se é uma questão profissional, alguém que trabalha em vários lugares ao mesmo tempo, acho que o 5G representa um outro tipo de possibilidade de trabalho. Não vale a pena para o público que fica muito em casa e no escritório, e que não faça diferentes usos da rede, além do WhatsApp e outras redes sociais”, disse.
Para o consumidor médio, o 4G já atende bem atividades de entretenimento, trabalho e educação. Por causa da velocidade e estabilidade maiores e da latência reduzida, o 5G é associado ao aumento da produtividade da indústria, do agronegócio, da saúde e outros setores.
Levantamento da consultoria GfK mostra que, entre janeiro e maio de 2022, as vendas de smartphones compatíveis com o 5G no Brasil cresceram 230% em relação ao mesmo período de 2021.
Contudo, os celulares com a tecnologia ainda são mais caros que os antecessores. A média de preços nesse período foi de R$ 3.738 para aparelhos com 5G, ante R$ 1.601 para aqueles sem a antena, uma diferença de 133%.
Com a popularização dos aparelhos e o lançamento oficial da rede, a tendência é de queda dos preços. No último ano, o valor médio desses celulares caiu 30%.
Mas, segundo o Buscapé, não houve um aumento da procura dos aparelhos após o lançamento do 5G no dia 6, com exceção do Samsung Galaxy A52s, modelo intermediário da empresa.
“Ainda que esse preço venha baixando, é um preço mais alto. Mas, a gente vê uma curva de queda de preço mês a mês, então isso vai chegar num ponto ótimo em que a demanda por tudo que não é 5G vai sumir”, explica Felipe Mendes, diretor geral da GfK.
Para Mendes, a principal vantagem do celular 5G é a velocidade de download. Ele explica que isso é importante para quem se desloca em transportes públicos ouvindo música ou assistindo a conteúdos em vídeo. Assim, a nova conexão evitaria engasgos e lentidão.
A velocidade do 5G puro alcança, em média, 1Gbps (Gigabit por segundo), sendo dez vezes maior que a média do 4G. Por exemplo, para baixar um arquivo de 5 GB (um filme em alta definição) no 5G puro, seria preciso aguardar 42 segundos. E essa conexão pode chegar a até 20 Gbps.
Contudo, testes feitos pela Folha de S.Paulo mostraram que o 5G “puro” em Brasília apresentou velocidade oscilante, cobertura parcial e “impurezas” e que o “impuro”, em São Paulo, falhou em superar o 4G.
Apesar do lançamento recente, o professor da PUC-RS recomenda que quem for trocar de celular hoje substitua para um compatível com o 5G. “O tempo médio para trocar de celular é cerca de dois anos. Então, trocar para o 5G agora já vale para quando a rede já estiver mais estável”, disse.
COMO USAR O 5G?
Para usar o 5G puro, é necessário ter aparelho compatível com a conexão, ser cliente de alguma operadora que ofereça o serviço e estar na área de cobertura. Alguns poucos aparelhos compatíveis exigem chip novo. A conexão começou a funcionar em Brasília no dia 6 de julho. Belo Horizonte e Porto Alegre estão adiantadas no processo de adequação técnica e devem ser as próximas capitais a lançar o serviço.
MEU CELULAR JÁ MOSTRAVA O ÍCONE DO 5G. QUAL A DIFERENÇA?
O 5G disponível antes do dia 6 de julho em algumas capitais é chamado de 5G DSS (Dynamic Spectrum Sharing) ou NSA (non-standalone). A conexão é considerada “impura” por operar na mesma faixa de frequência do 4G (2,3 GHz), o que limita seu desempenho. A versão “pura”, ou standalone, tem uma faixa dedicada somente a ela, de 3,5 GHz.
O QUE É E O QUE PODE FAZER O 5G?
O 5G é a próxima geração de conexão de internet móvel, usada em celulares e outros dispositivos sem fio. A tecnologia oferece maiores velocidades para baixar e enviar arquivos e menor latência para a transmissão de dados em tempo real.
Para o consumidor médio, o 4G já atende bem atividades de entretenimento, trabalho e educação. Mas o 5G é associado ao aumento da produtividade da indústria, do agronegócio, da saúde e outros setores. Por isso, as velocidades maiores e latência mínima prometidas são aguardadas.
A chegada do 5G também deve movimentar o mercado de trabalho no Brasil ao gerar empregos e exigir novas habilidades profissionais. Os setores de tecnologia e telecomunicações serão os mais afetados.
Para 2027, ano em que a tecnologia deve se tornar dominante, pelas projeções da Ericsson, serão 4,4 bilhões de usuários do 5G no mundo. Até o final deste ano, deve alcançar 1 bilhão.