Marcelo Toledo, da Folhapress – A próxima safra de cana-de-açúcar, que começará em abril, deverá apresentar recuo de 9,8% em relação ao montante colhido na safra 2023/24 no centro-sul do país, região que concentra os principais estados produtores.
Os dados da safra 2024/25 foram divulgados nesta quarta-feira (6), em Ribeirão Preto (a 313 km de São Paulo), durante o 8º Santander Datagro, evento que debaterá até esta quinta (7) o cenário do mercado sucroenergético no país.
De acordo com a Datagro, a previsão indica que a safra alcançará 592 milhões de toneladas de cana, ante as 656,1 milhões da safra que oficialmente terminará no dia 31 deste mês. Embora ainda esteja em andamento, o total de usinas produzindo é residual e não deverá alterar a projeção.
Em comparação com a previsão inicial para a atual safra, porém, o volume é semelhante: em março do ano passado, a Datagro indicava colheita de 590 milhões de toneladas no centro-sul. Fatores climáticos favoráveis, porém, elevaram a produção no decorrer do ano.
“A gente não podia prever que choveria tanto em março e abril. Depois, a falta de chuva no fim do ano permitiu que toda a cana produzida fosse processada […] Será uma safra [2023/24] para ser guardada na memória”, disse Plínio Nastari, presidente da consultoria Datagro, em relação à safra que termina neste mês.
Para o próximo ciclo, caso a previsão de redução se confirme, serão 64 milhões de toneladas de cana a menos, o que se assemelha à produção somada de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul na safra 2023/24, segundo a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento). E supera as 62 milhões de toneladas da atual safra nas regiões Norte e Nordeste, somadas.
A redução só não será crítica para o setor por causa do fato de haver um bom estoque de passagem, especialmente para o etanol, que fará com que a oferta de açúcar caia 0,4% e a de etanol, 1,78%, conforme a previsão da Datagro.
Em fevereiro, a estimativa é que as usinas tivessem 6 bilhões de litros de etanol estocados, o suficiente para dois meses de consumo, o que representa 36,7% mais que na safra anterior. Isso ocorreu justamente porque a safra foi maior que o esperado, segundo Nastari.
Para a próxima safra, a previsão é menor por causa de algumas incertezas. O centro-sul teve redução de 26,7% nas chuvas nos últimos cinco meses, em relação à média histórica, e a previsão indica chuvas abaixo do normal em março e abril em alguns dos principais estados produtores.
“As chuvas de março e abril são determinantes para saber o tamanho dos canaviais nos segundo e terceiro terços da próxima safra”, disse.
Além disso, entre julho e agosto deve passar a ocorrer o fenômeno La Niña, que resultará em menos chuvas no segundo semestre e permitirá acelerar a moagem.
Com esses efeitos climáticos, a produtividade de cana por hectare cairá das atuais 88 toneladas para 78. Como dado positivo, há a perspectiva de que a área colhida seja 1% maior.
SEM RISCOS
O volume atual de estoque é suficiente para não haver risco algum ao mercado, considerando-se que 65% de 127 usinas do centro-sul pesquisadas pela Datagro iniciarão a safra já em abril e colocarão combustível no mercado.
Luciano Rodrigues, diretor de inteligência setorial da Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia), disse que os desafios atuais são mais complexos que os enfrentados no passado pelo setor.
“O etanol seguia um pouco a regra da precificação da gasolina. Estimar a safra era entender o que se passava no campo, a penetração dos veículos flex, havia menos informações disruptivas. O processo foi se tornando mais complexo, com o etanol de milho, o que obrigou a entender o mercado de grãos, o preço da gasolina passou a ter paridade com dólar e há inovações tecnológicas”, disse.
O ano-safra 23/24 da cana-de-açúcar terminará em 31 de março, mas o acumulado até a primeira quinzena de fevereiro já mostra um grande crescimento na moagem.
Foram processadas 646,6 milhões de toneladas de cana desde abril de 2023, ante 543,21 milhões do mesmo período da safra 2023/23, o que representa um avanço de 19,03%, segundo a Unica.
A produção de açúcar na atual safra cresceu ainda mais, 25,59%, com 42,16 milhões de toneladas, ante 33,57 milhões de toneladas da safra passada.
Já a fabricação de etanol atingiu 32,48 bilhões de litros, 15,53% mais que no ano anterior. A maioria virou etanol hidratado – usado diretamente nos veículos -, com 19,46 bilhões de litros, enquanto o anidro misturado à gasolina antes da comercialização nos postos representou 13,03 bilhões de litros.